Avaliação do estado de conservação de viadutos em concreto armado Estudo de caso da ferrovia Recife/Gravatá-PE
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Resumo
A deterioração de grandes monumentos da engenharia como pontes e viadutos, é um problema mundial, e a solução está na manutenção e conservação dessas obras, através do real entendimento de suas condições e da realização de inspeções periódicas. Identificar o real estado de conservação dessas obras e a elaboração de um diagnóstico seguro, entendendo o nível de deterioração da estrutura, os sintomas e causas das manifestações patológicas encontradas, auxilia na elaboração de um prognóstico a ser adotado com o objetivo de garantir integridade da obra de arte especial. O município de Gravatá, localizado a cerca de 80 km da cidade do Recife, é uma das principais cidades que compõem o Agreste Pernambucano, sendo um forte representante do turismo. A cidade apresenta interesse em reativar o trecho ferroviário da antiga estrada de ferro do estado, atualmente desativada, de modo a torná-lo mais um de seus atrativos turísticos. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi avaliar o estado geral de conservação dos viadutos, Obras de Arte Especiais (OAE 's) situadas no trecho tombado da estrada ferroviária, Linha Tronco Centro de Pernambuco, localizado no município de Gravatá. Com o intuito de realizar de forma sistemática o estudo em questão foi adotado o método de levantamento prescrito pela NBR 9452: Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto – Procedimento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, 2019). Os procedimentos previstos nessa norma são usualmente adotados no Brasil para identificar e diagnosticar as principais anomalias existentes nas estruturas em questão. A rotina deste método teve início com uma inspeção cadastral (preliminar) e foi posteriormente realizado uma inspeção detalhada, como descreve a NBR 9452 (ABNT, 2019, p. 5), apresentando o “mapeamento gráfico e quantitativo das anomalias de todos os elementos aparentes e/ou acessíveis da OAE”. Os principais passos desenvolvidos foram: (1) Levantamento histórico da estrutura – registrar o contexto geral em que a obra está inserida através de coleta de dados, organizando todo o material já existente sobre a estrutura; (2) Inspeção cadastral – identificar a localização da estrutura e as características funcionais, além de indicar, classificar e quantificar a gravidade de todos os sintomas visuais encontrados na OAE, com auxílio das fichas de inspeção de registros fotográficos; (3) Elaboração dos projetos arquitetônicos – desenvolver as plantas de vista das estruturas de estudo através do uso de “software” de desenvolvimento de projetos e produtos gráficos; (4) Inspeção especial – apresentar o mapeamento gráfico das anomalias de todos os elementos aparentes e/ou acessíveis da OAE, também através do uso de “software” de desenvolvimento de projetos e produtos gráficos; (5) Ensaios tecnológicos – realizar ensaios na estrutura para verificar se a mesma atende alguns critérios de durabilidade, e entender como as áreas estão sendo comprometidas pelas manifestações patológicas. (6) Tratamento dos dados obtidos – tratar os dados adquiridos e interpretar o comportamento das anomalias, garantindo assim que todas foram detectadas; (7) Diagnóstico – etapa de análise dos resultados obtidos no estudo das manifestações patológicas, e entender sintomas, causas e origens com a intenção de iniciar estudos sobre possíveis alternativas que pudessem solucionar os problemas identificados. (8) Prognóstico – definição da conduta a ser adotada para garantir a integridade da estrutura e/ou aumentar quando possível sua vida útil. Dentre os resultados encontrados no que diz respeito às OAE’s (viadutos), foco do presente estudo, o trecho ferroviário de tombamento na Serra das russas, com cerca de 17 quilômetros de extensão, foi construído no fim do século XIX entre 1886 e 1894. Neste período de 8 anos foram construídos os 21 túneis e 9 viadutos, que posteriormente se reduziram em 14 túneis e 6 viadutos, visto que 7 túneis foram transformados em céu aberto e 3 viadutos aterrados. Os viadutos do trecho tiveram suas estruturas metálicas originais substituídas por concreto entre os anos de 1945 e 1947 pela Great Western. Como resultado da inspeção, verificou-se que as principais anomalias são o acúmulo de água e/ou sedimentos, manchas e eflorescências, infiltração de água no interior concreto, sendo as causas mais comuns para o aparecimento das anomalias supracitadas a drenagem deficiente ou ausente pela concepção incorreta do sistema e a falta de manutenção. Os ensaios de Esclerometria - NBR 7584 (ABNT, 2012) demonstrou elevada dureza superficial atingindo valores de IE acima de 30, muito embora seja comum em estruturas antigas, dado que o concreto nunca para de ganhar resistência e que a resistência superficial é influenciada por fatores como a carbonatação superficial da peça. Foi possível identificar, ainda, deterioração do concreto, corrosão de armaduras, com aparecimento de manchas de corrosão, fissuras e exposição de armaduras, causados comumente por erros de projeto (recobrimento insuficiente) e/ou por erros de execução (cofragem, betonagem e descofragem). Os ensaios de Profundidade de carbonatação – RILEM CPC-18 (RILEM ,1988) e Presença de cloretos livres – UNI 7928 (UNI, 1978), demonstraram que a corrosão não está relacionada a entrada desses elementos no concreto, sendo a causa provável, erros de projeto como o recobrimento insuficiente. O estudo de caso apresentado neste trabalho é uma pequena demonstração de como a ausência de manutenção resulta na deterioração das obras de concreto, visto que as manifestações patologias apresentadas foram em grande parte decorrentes da ausência de manutenção ao longo do tempo, principalmente pela condição de abandono em que se encontram as estruturas. Esses problemas podem ser corrigidos, a princípio, com manutenções corretivas com reparo das áreas afetadas e melhoramento do sistema de drenagem, preenchimento ou selagem de fissuras, colocação de sistemas de drenagem eficientes e outros trabalhos de reparo. É de extrema importância determinar se na atual condição em que se encontram, estas oferecem algum risco para a população, além de embasar um prognóstico a ser adotado com o objetivo de garantir integridade das obras de arte especiais e possibilitar a reativação do trecho, favorecendo ainda mais o turismo na região. Ainda como conclusão é possível dizer que a utilização da NBR 9452 (ABNT, 2019) como norteador para a realização de inspeções visuais, se trata de uma ferramenta que atende aos objetivos propostos e garante uma sistemática na execução da atividade, promovendo assim bons resultados.
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Edição
Seção
Engenharia Civil