Efeitos do Comportamento Cooperativo na Dinâmica e Produção de Entropia Social do Modelo do Voto da Maioria

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Igor Gomes Oliveira
André da Mota Vilela

Resumo

Diversos desafios contemporâneos como o compartilhamento de notícias falsas, crises socioecônomicas em governos democráticos, o desenvolvimento de novas políticas públicas e a otimização de trânsito e transporte público têm desafiado os cientistas da atualidade. Nesse cenário efervescente, a Sociofísica emerge como uma nova ciência interdisciplinar que enfrenta tais desafios sociais combinando métodos e conceitos da psicologia, biologia, sociologia e matemática através de modelagens físicas e simulações computacionais (STANLEY, 1971; YEOMANS, 1992; BALL, 2002). Afim de melhor compreender os fenômenos sociais da atualidade, múltiplas dinâmicas de formação de opinião em redes regulares e complexas de contatos sociais foram amplamente propostas e estudadas, investigando dinâmicas sociais, políticas e financeiras em grupos com grande número de indivíduos (CAMPOS, 2003; LIMA, 2013; VIEIRA et al, 2016; VILELA et al, 2017, 2018). Dentro dessa estrutura Sociofísica, uma das abordagens mais eficientes para modelar os ricos fenômenos coletivos de sociedades reais é o Modelo do Voto da Maioria. Em sua versão original (OLIVEIRA, 1992), cada indivíduo do sistema professa uma opinião contrária ou a favor de determinado tema social, como a decisão de voto num processo eleitoral entre partidos da situação ou oposição, ou optar pela compra ou venda de uma ação em um mercado financeiro. Por outro lado, os agentes são influenciados por seus vizinhos mais próximos em sua rede de contatos sociais e tendem a concordar com eles, devido ao fenômeno da validação social. Nesse fenômeno, os indivíduos se sentem psicologicamente mais confortáveis quando concordam entre si. Dessa forma, suas opiniões se modificam com o tempo e o estado socioeconômico da comunidade evolui. A forma original isotrópica desse modelo é inspirada em materiais magnéticos homogêneos e assume que todas as pessoas da sociedade possuem a mesma probabilidade (1 - q) de concordarem entre si. Assim, por provocar o desordenamento de opiniões da sociedade, o parâmetro q é denominado o ruído do sistema. Todavia, é esperado que diferentes indivíduos possuam diferentes probabilidades de formarem um consenso entre si. Assim, motivados por redes cristalinas como a da halite, material anisotrópico em que determinadas propriedades físicas variam conforme a direção,  o presente modelo propõe uma sociedade com dois tipos de indivíduos, regulares e cooperativos. Tal sistema reproduz uma anisotropia social, onde diferentes tipos de agentes possuem chançes distintas de concordar com sua vizinhança social. Através de simulações computacionais Monte Carlo, métricas do sistema como o parâmetro de ordem, a susceptibilidade magnética e  sua curtose e a produção de entropia foram calculadas. O modelo proposto foi também estudado analiticamente utilizando a Teoria de Campo Médio, verificando-se a concordância entre previsões teóricas e resultados numéricos computacionais. Além disso, foram obtidos os diagrama de fases do sistema na rede quadrada regular e no limite de campo médio e seu conjunto de expoentes críticos associados. Os resultados indicam, entre outras descobertas, a existência de uma temperatura social crítica qc que é função da fração presente de agentes cooperativos na sociedade e da intensidade do fenômeno colaborativo, demarcando a fronteira em que a sociedade adentra num estado de polarização sociopolítico-econômico.

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Seção
Física de Materiais