Inspeção Visual e Priorização de Manutenção de Pontes nas Microrregiões do Estado de Pernambuco

Resumo

As pontes são elementos essencial para transportes e tráfegos de pessoas. A presente pesquisa teve como objetivo principal avaliar e estabelecer critérios de priorização para manutenção de pontes rodoviárias localizadas no interior do estado de Pernambuco, utilizando como base a metodologia de inspeção visual e o método GUT, que se destaca por sua simplicidade e aplicabilidade prática na gestão de ativos. O estudo concentrou-se em duas microrregiões: o Agreste, sob responsabilidade do 3º Distrito Rodoviário (DRO) com sede em Caruaru, onde foram inspecionadas 61 pontes; e o Sertão Central, vinculado ao 6º DRO de Salgueiro, com um total de 50 pontes analisadas, totalizando 111 estruturas inspecionadas. A escolha dessas regiões se deu por sua relevância no escoamento de produção e pelo alto tráfego de veículos pesados, o que intensifica o desgaste estrutural das pontes. A metodologia empregada consistiu em inspeções visuais simples, conforme os parâmetros estabelecidos pela norma ABNT NBR 9452:2016, que define os procedimentos mínimos para avaliação das condições estruturais, funcionais e operacionais de obras de arte especiais (OAE). Essa norma, segundo ABNT (2023), permite a padronização de critérios técnicos durante as vistorias, favorecendo diagnósticos mais confiáveis. Durante a etapa de campo, foram observadas patologias em diferentes componentes estruturais, como vigas, pilares, lajes, aparelhos de apoio e sistemas de drenagem. As informações coletadas foram registradas em fichas de inspeção, com registros fotográficos e observações técnicas. Para complementar essa análise e orientar decisões quanto à manutenção, foi aplicado o método GUT, que considera três dimensões: Gravidade (G), Urgência (U) e Tendência (T), classificadas com notas de 1 (menor impacto) a 5 (impacto máximo). O produto G×U×T forneceu um índice numérico individualizado para cada ponte, indicando a criticidade e a prioridade de intervenção. Essa abordagem foi inspirada em estudos recentes que evidenciam a efetividade do método GUT em diferentes contextos de gestão pública, como apontam Barros e Souza (2022), ao aplicarem a ferramenta em infraestrutura urbana com bons resultados. A análise dos dados revelou que as pontes situadas na microrregião do Agreste apresentaram os maiores índices GUT médios, evidenciando um estado mais crítico em relação às estruturas do Sertão Central. Entre as manifestações patológicas mais comuns identificadas estavam corrosão de armaduras aparentes, trincas longitudinais e transversais, desplacamento de concreto, presença de infiltrações e falhas nos dispositivos de apoio e juntas de dilatação. Algumas estruturas, inclusive, apresentaram sinais de comprometimento em elementos principais, com risco potencial à estabilidade e à segurança dos usuários, fato também abordado por Freitas et al. (2022), que alertam sobre as limitações da inspeção visual quando não acompanhada por análises complementares. Apesar disso, o uso da inspeção visual, quando bem estruturada, permite diagnósticos eficazes para fins de triagem e planejamento, como reforçado por Oliveira e Moura (2023), que destacam sua importância no contexto brasileiro, especialmente em regiões onde faltam recursos para avaliações mais sofisticadas. O método GUT mostrou-se uma ferramenta valiosa para hierarquização das intervenções, uma vez que suas notas, quando aplicadas com critérios técnicos bem definidos, indicam de forma clara quais estruturas demandam atenção imediata. A análise dos dados demonstrou ainda que muitas das estruturas com maior índice GUT estão localizadas em vias de ligação regional ou acesso a centros urbanos, o que amplia o impacto social e econômico da degradação estrutural. Como observado por Silva e Lima (2022), métodos multicritério como o GUT auxiliam na tomada de decisão ao transformar variáveis técnicas em indicadores quantitativos, o que favorece o planejamento orçamentário e logístico das manutenções. A ausência de agrupamento das pontes em faixas de prioridade (como baixa, média ou alta) foi deliberada, de modo a manter a leitura individualizada de cada estrutura e preservar o foco na gravidade real dos problemas detectados. Essa estratégia já foi adotada por outros estudos, como o de Martins e Ferreira (2024), que sugerem que a análise caso a caso evita a subvalorização de problemas pontuais em estruturas com histórico crítico. A metodologia adotada na presente pesquisa permite, portanto, uma avaliação técnica precisa e realista, contribuindo diretamente para a gestão da infraestrutura viária estadual. A principal contribuição prática do trabalho está na proposta de um modelo simplificado, porém eficaz, para definição de prioridades em obras de arte especiais, unindo a objetividade da inspeção visual padronizada à versatilidade do método GUT. Além disso, os dados levantados nesta pesquisa podem servir de base para a elaboração de planos de manutenção periódica, atualização cadastral e futuras inspeções de maior profundidade, como a inspeção principal ou ensaios estruturais. Conclui-se, assim, que a aplicação conjunta da ABNT NBR 9452 com o método GUT é eficaz para o diagnóstico preliminar e priorização técnica de pontes, sendo uma estratégia viável e acessível para estados e municípios que enfrentam desafios orçamentários, especialmente em regiões interioranas com alta densidade de estruturas e carência de manutenção sistemática. O trabalho também reforça a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à conservação de obras de arte especiais, considerando que a deterioração dessas estruturas compromete diretamente a segurança viária, a mobilidade regional e a eficiência logística. Diante disso, recomenda-se a institucionalização de programas de inspeção contínua com base em metodologias simplificadas e eficazes, como a utilizada neste estudo, a fim de garantir maior durabilidade e desempenho das infraestruturas rodoviárias brasileiras.