Análise estatística das manifestações patológicas nos azulejos da Sala do Capítulo do Convento de Santo Antônio: Uma aplicação do Teste Qui-Quadrado

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Felipe Duan Moura Vasconcelos
Willames de Albuquerque Soares
Eliana Cristina Barreto Monteiro

Resumo

A conservação do patrimônio histórico edificado é uma tarefa complexa, que ultrapassa a simples manutenção física dos bens culturais, envolvendo a preservação de valores simbólicos e artísticos fundamentais para a memória coletiva de uma comunidade (Imtiaz et al., 2024). No Brasil, os azulejos coloniais desempenham papel expressivo nesse contexto, representando não apenas elementos decorativos, mas verdadeiros documentos históricos que testemunham técnicas artísticas e dinâmicas sociais dos séculos XVII e XVIII (Araújo; Santos; Ventura, 2021). Entretanto, tais elementos se mostram altamente vulneráveis à ação de agentes naturais, como umidade, poluição atmosférica e intempéries, bem como a danos causados por intervenções humanas mal executadas ou ausência de manutenção preventiva. Essas manifestações patológicas, quando não diagnosticadas e tratadas precocemente, comprometem tanto a integridade material quanto o valor histórico e estético das edificações, gerando perdas irreparáveis para o patrimônio cultural de um local (Vasconcelos, 2025). Inserido nesse contexto, este estudo analisou, sob uma abordagem estatística, as manifestações patológicas identificadas nos painéis de azulejos da Sala do Capítulo do Convento de Santo Antônio, localizado na cidade do Recife (PE), com o objetivo de mapear padrões de degradação e orientar estratégias de conservação preventiva baseadas em dados concretos e analíticos. A pesquisa, de caráter quantitativo e descritivo, envolveu a inspeção visual e o registro fotográfico de 2.120 azulejos distribuídos pelas quatro paredes do ambiente, consideradas individualmente como unidades de observação. As manifestações patológicas identificadas foram classificadas em três categorias principais: danificação física, intervenções humanas e desgaste por ação do tempo. Para avaliar se havia diferenças significativas na distribuição desses danos entre as paredes, foi aplicado o teste qui-quadrado de homogeneidade, utilizando o software RStudio (Posit Team, 2025), que também permitiu calcular os resíduos padronizados ajustados e gerar representações visuais dos dados, como mapas de calor. Dessa forma, os resultados indicaram de forma contundente que as manifestações patológicas não se distribuem de maneira homogênea entre as paredes da Sala do Capítulo. A parede Norte apresentou elevados índices de danificação física, com 73 ocorrências observadas, muito acima das 32 esperadas, e também maior número de intervenções humanas, o que sugere histórico de reparos ou remanejamento de peças possivelmente realizados sem o rigor necessário para manter a integridade estética e documental do conjunto. A parede Oeste também se destacou pelo alto número de danos físicos (67 observações frente a 18,9 esperadas), registrando o maior resíduo padronizado positivo do estudo (+11,09), o que pode estar relacionado à exposição à ação direta de chuvas e infiltrações, comprometendo significativamente a coesão estrutural dos azulejos. Por outro lado, a parede Leste não apresentou casos de danificação física (0 observações frente a 60,4 esperadas), mas concentrou o maior número de ocorrências de desgaste por ação do tempo, com 291 registros, muito além das 199,6 esperadas, evidenciando sinais de sujidade e envelhecimento que, embora não comprometam a estrutura dos azulejos, prejudicam sua legibilidade estética e podem acelerar processos de degradação se não tratados. Já a parede Sul revelou menor comprometimento estrutural, com apenas 11 casos de danificação física, muito abaixo do esperado, embora tenha apresentado sinais pontuais de desgaste superficial. A análise dos resíduos padronizados ajustados mostrou também diferenças estatisticamente significativas entre as paredes, confirmando que tais variações não ocorrem por acaso, mas refletem fatores específicos como orientação das fachadas, grau de exposição ambiental, histórico de intervenções e possíveis variações construtivas internas do edifício. Assim, concluiu-se que esses achados são essenciais para fundamentar futuros planos de conservação segmentados, que considerem as particularidades de cada parede, priorizando intervenções estruturais mais urgentes nas faces Norte e Oeste, e ações de limpeza e conservação superficial na face Leste. Somado a isso, constatou-se que a aplicação de métodos estatísticos, como o teste qui-quadrado aliado aos resíduos padronizados, mostrou-se extremamente eficaz para o diagnóstico detalhado das manifestações patológicas, viabilizando decisões mais assertivas na conservação de bens históricos. Além disso, o estudo reforça a relevância de investigações complementares para aprofundar a compreensão das causas subjacentes aos danos, como infiltrações, variações térmicas e vibrações estruturais, além de destacar a necessidade de integrar análises históricas, assegurando intervenções compatíveis com a autenticidade e o valor cultural do patrimônio. Dessa forma, o trabalho contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento de estratégias de conservação preventiva, unindo rigor técnico e sensibilidade cultural na preservação qualificada do patrimônio histórico brasileiro.

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Seção
Engenharia Civil