Estado da arte em argamassas de restauro: materiais, técnicas e desafios na preservação do patrimônio construído

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Joyce Soares Silva
Eudes Rocha
Júlia Santos
Victor Lima

Resumo

A preservação do patrimônio construído depende da formulação de argamassas de restauro com propriedades adequadas para garantir compatibilidade físico-química e mecânica com os materiais originais. Uma intervenção bem-sucedida deve assegurar a durabilidade e evitar patologias futuras, em equilíbrio com os princípios de reversibilidade e sustentabilidade. O objetivo deste trabalho é, portanto, apresentar as técnicas de análise, os materiais e os desafios que definem o estado da arte neste campo. A pesquisa foi conduzida como uma revisão sistemática da literatura, utilizando o método PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) (Moher et al., 2019) para a seleção dos estudos nas bases Scopus, Science Direct, Web of Science  e  Springer  Link, para publicações entre 2014 e 2024, resultando numa seleção de 56 artigos, com a aplicação de critérios de elegibilidade. A análise temporal dos artigos selecionados mostra um aumento no volume de pesquisas sobre o tema, com um pico de publicações identificado no ano de 2023. Os resultados foram organizados em duas categorias complementares: (i) métodos de caracterização, utilizados para determinar a composição e o desempenho dos materiais, destacando a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), em conjunto com a Espectroscopia de Dispersão de Energia (EDAX), aplicadas para realizar análises morfológicas e da composição química elementar (Klimek, 2023). Para a identificação da composição mineralógica, a Difração de Raios-X (DRX), auxilia na verificação da compatibilidade entre materiais novos e antigos (Perez-Rodriguez et al., 2023). O comportamento da argamassa em relação à água e sua durabilidade são medidos através de da porosimetria por intrusão de mercúrio e a absorção de água por capilaridade (Moropoulou et al., 2016). Atualmente, modelos de redes neurais artificiais são explorados para prever a resistência à compressão das argamassas (Apostolopoulou et al., 2019). Paralelamente, investiga‑se o desenvolvimento de argamassas com capacidade de autosselagem a partir de aditivos cristalinos (De Nardi et al., 2017); e (ii) a análise dos materiais, que revela uma preferência clara pela cal hidráulica natural (NHL) como ligante em argamassas de restauro baseando-se na alta compatibilidade com substratos antigos, elasticidade e permeabilidade ao vapor, propriedades que ajudam a prevenir fissuras (Bompa e Elghazouli, 2021; Angiolilli et al., 2020). O cimento Portland, por outro lado, embora ofereça alta resistência inicial, pode causar problemas como manchas de umidade, eflorescências salinas, descamações e fissuras, comprometendo a permeabilidade e acelerando a deterioração das estruturas históricas (Pachta, 2021). Para otimizar as formulações, o metacaulim (MK) é usado como adição pozolânica, demonstrando alta resistência a ataques químicos e ajudando a evitar a formação de grandes poros (Chantzi e Dotsika, 2016). A incorporação de fibras também aprimora o desempenho: as de basalto aumentam a resistência à flexão e compressão (Escamilla et al., 2024); as de vidro melhoram a energia de fratura (Angiolilli et al., 2020); e as de carbono aumentam a resistência mecânica sem alteraração cromática (Drougkas et al., 2023). Além disso, identificaram‑se lacunas quanto à comparabilidade de métodos, validações de longo prazo em campo, limitação de bibliotecas espectrais e ausência de registros de intervenções prévias (Chantzi e Dotsika, 2016; Matouskova et al., 2021; Loke et al., 2023). Diante dessas limitações, recomenda‑se o desenvolvimento colaborativo de protocolos padronizados que integrem métodos de caracterização (laboratoriais e não invasivos) e ensaios de desempenho em condições reais de uso, permitindo comparações consistentes entre estudos. A criação de bancos de dados espectrais abertos e atualizados facilitaria a identificação precisa dos materiais históricos. Por fim, a articulação entre universidade, laboratórios especializados e setor de restauração é fundamental para converter o conhecimento gerado em soluções práticas, sustentáveis e reversíveis.

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Seção
Engenharia Civil