Segurança e saúde ocupacional na produção de concreto com cinza de casca de arroz (RHA): riscos da sílica e medidas preventivas – uma revisão sistemática

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Diego Henrique Alves da Silva
Victor Marcelo Estolano De Lima, PhD
Vinícius Francis Braga de Azevedo, MSc
Felipe Mendes da Cruz, PhD
Bianca M Vasconcelos, PhD

Resumo

A crescente preocupação com a escassez de recursos naturais e os impactos ambientais das atividades humanas tem levado à busca por soluções sustentáveis em diversos setores produtivos, especialmente na agricultura e na indústria da construção civil. A produção mundial de arroz, por exemplo, gera anualmente milhões de toneladas de resíduos e representam aproximadamente 20% do volume total produzido, sendo identificados como uma das maiores fontes de resíduos agrícolas no mundo (Schmidt et al., 2020), o que intensifica a necessidade de desenvolver soluções que promovam a reutilização desses materiais na cadeia produtiva de forma mais sustentável. Simultaneamente, a produção de cimento Portland, base da construção civil, é uma das principais responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono (CO₂), o que reforça a urgência em identificar materiais alternativos que reduzam os impactos ambientais do setor (Paris et al., 2016; Schmidt et al., 2021). Nesse contexto, a cinza da casca de arroz (RHA, do inglês rice husk ash), subproduto da queima controlada das cascas para geração de energia de biomassa, tem se mostrado um material cimentício suplementar (MCS) promissor. Composta majoritariamente por sílica amorfa (SiO₂), que pode alcançar teores entre 90% e 95% em peso (He, 2012), a RHA tem potencial de substituir parcialmente o cimento na produção de concreto, agregando valor a um resíduo agrícola e contribuindo para práticas mais alinhadas à economia circular (Meyer, 2009; Thiedeitz; Ostermaier; Kränkel, 2022). O objetivo deste trabalho foi identificar, por meio de uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL), os riscos ocupacionais associados à exposição à sílica presente na RHA durante o manuseio e a produção de concreto, bem como as medidas preventivas propostas na literatura científica, com foco em Segurança e Saúde Ocupacional (SSO). A metodologia seguiu o protocolo PRISMA, utilizando cinco bases de dados eletrônicas (Wiley Online Library, Taylor & Francis, Scopus, Web of Science e Science Direct), os operadores booleanos AND e OR e as seguintes palavras-chave: “workers”, “employees”, “manpower”, “work safety”, “occupational health”, “occupational diseases”, “cementitious elements”, “supplementary cementitious materials”, “concrete mixing”, “biomass ash”, “rice husk ash”, “sugarcane bagasse ash". Também se fez uso da técnica de snowballing reverso para rastreamento de referências complementares, conforme as diretrizes de Pinheiro, Comis e Rodrigues (2024). A pesquisa abrangeu artigos publicados entre janeiro de 2016 e dezembro de 2025 e, ao final, foram identificados 22 estudos na síntese primária. Os resultados revelam que a RHA representa um risco ocupacional relevante principalmente devido à sua natureza particulada e ao alto teor de sílica, que em determinadas condições pode assumir forma cristalina em escala nanométrica, reconhecida como altamente tóxica (Torres-Carrasco et al., 2019). A literatura indica que nanopartículas de sílica têm elevada capacidade de penetração no organismo humano por vias respiratória, dérmica e até digestiva, podendo alcançar tecidos e órgãos internos, ultrapassando barreiras fisiológicas convencionais (Crosera et al., 2009; Oberdörster et al., 2019). Tal comportamento é particularmente preocupante em ambientes industriais com exposição contínua à poeira fina, como ocorre durante o transporte, mistura, moldagem e cura do concreto com RHA. Além disso, autores como Reches (2018) alertam para os desafios da nanotecnologia aplicada à construção civil, pois os efeitos toxicológicos das nanopartículas ainda são pouco compreendidos, e as avaliações de risco ocupacional frequentemente não consideram sua especificidade. Os resultados da RSL indicaram, ainda, a escassez de estudos que quantifiquem com precisão a exposição dos trabalhadores à sílica da RHA e de avaliações experimentais sobre a eficácia de medidas de controle e proteção individual tipicamente adotadas. Conclui-se que a RHA tem forte potencial como insumo sustentável na produção de concretos, podendo contribuir significativamente para a redução da pegada de carbono do setor da construção. No entanto, sua incorporação em larga escala só poderá ocorrer de forma segura mediante o estabelecimento de medidas eficazes de proteção à saúde ocupacional. Assim, é fundamental que sejam estabelecidos limites seguros de exposição e desenvolvidas estratégias específicas de prevenção e controle baseadas em dados empíricos, pois a ausência de tais informações representa uma limitação crítica para a normatização e regulamentação do uso da RHA em escala industrial.

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Seção
Engenharia Civil