Fotogrametria como ferramenta para mapa de danos em azulejos: Estudo de caso em uma fachada do Bloco A da Escola Politécnica da UPE

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joao victor farias gomes da silva
Eudes de Arimatéa Rocha
João Pedro Meneses de Melo
Júlia Oliveira dos Santos
Pedro Henrique Cabral Valadares

Resumo

A preservação de edificações históricas é fundamental na manutenção da memória cultural e na valorização do patrimônio arquitetônico. No entanto, a busca por ações voltadas para a conservação ainda enfrenta desafios, sobretudo quando se trata de registros técnicos precisos e atualizados, esbarrando em uma ausência considerável, especialmente no que se refere a detalhes construtivos e desenhos originais, em consonância com recomendações que apontam a necessidade de inventários e disponibilização sistemática de informações (Duarte Júnior, 2010). Esse cenário compromete a eficácia das intervenções e escancara as limitações dos métodos tradicionais de levantamento, que por muitas vezes não tem a precisão necessária para uma boa avaliação em estruturas complexas ou degradadas. Nesse contexto, a fotogrametria digital, técnica muito usada em áreas como cartografia e topografia, surge como uma alternativa promissora, capaz de gerar modelos tridimensionais tanto de objetos, como ambientes com maiores detalhes sendo cada vez mais inserida em ambientes de realidade virtual e aumentada (Al-Ruzouq et al., 2023) e auxiliar no diagnóstico das patologias construtivas. A técnica é, sumariamente, empregada para documentações, sendo capaz de registrar texturas com acurácia de ordem milimétrica, quando comparada a tecnologias correlatas, segundo Fawzy (2019). Vale salientar que um dos principais desafios está na captura dessas imagens, pela necessidade de uma maior simetria horizontal e da menor curvatura nas colunas verticais, tornando quase impossível obter tal enquadramento em um ambiente não controlado (Soycan, A.; Soycan, M., 2018). Este estudo aplicou essa técnica à fachada Norte do Bloco A da Escola Politécnica, na Universidade de Pernambuco, edifício eclético do século XIX revestido por aproximadamente 3.655 azulejos portugueses lisos de 10x10 cm de dimensões e raros no acervo pernambucano da época. O objetivo foi avaliar o processo de mapeamento dos danos e sua precisão diagnóstica. Além disso, a pesquisa se propõe a analisar a produtividade e limitações da ferramenta usada, identificando as lacunas existentes na aplicação e traçar estratégias que possam melhorar ainda mais os resultados. A pesquisa se justifica pela ausência de documentos técnicos mais atualizados sobre edificações históricas, e na introdução de formas mais precisas e assertivas no levantamento do patrimônio edificado. Para isso, inicialmente foi realizada uma inspeção in loco de caracterização da edificação, com o levantamento de informações destinadas ao preenchimento de uma Ficha de Identificação de Danos (FID). Foram observados aspectos de exposição da fachada (orientação, incidência solar, cobertura etc.), complementados por informações de origem, data, quanto a técnica de produção, frequência de manutenções e manifestações patológicas identificadas. O levantamento fotogramétrico foi realizado com auxílio de um drone modelo DJI Mini 4 Pro, que executou varredura ortogonal de toda a fachada norte, a uma distância padrão de 1,20m. A segunda etapa iniciou no processamento das imagens no software MetaShape, e com a formação da nuvem de pontos e posterior aplicação de textura, o ortomosaico da fachada em questão foi exportado em escala real para o AutoCAD, onde foi possível delinear precisamente cada peça azulejar que compõe a fachada. Para melhor compreensão da severidade e profundidade dos danos, hachuras distintas para os problemas identificados no vidrado, chacota e base suporte do revestimento foram aplicadas. De modo geral, os danos concentram-se predominantemente no vidrado, com gretamento generalizado, alteração cromática e perda parcial, representando cerca de 37% do total das peças da fachada. Painéis seculares, com juntas irregulares e reposições pontuais, costumam desafiar traçados automáticos que padronizam módulos; a fotogrametria, contudo, registrou variações de planeza e deslocamentos de peças, produzindo mapa de danos geométrico e metricamente consistente. Nesse sentido, a metodologia adotada no mapeamento permitiu: (i) quantificar o universo total de azulejos danificados, (ii) destacar as peças passíveis de recuperação (limpeza, consolidação ou reaplicação de argamassa colante), (iii) identificar as que exigem substituição para restabelecer o desempenho do subsistema de revestimento. Além disso, os dados mais precisos subsidiam estimativas de insumos, projeções periódicas de intervenções e priorização das medidas preventivas. No entanto, coberturas reflexivas, como o vidrado, sofrem com a iluminação desigual que, por sua vez, prejudicam interpretações, podendo mascarar manchas e descolorações nas peças. Para mitigar estes efeitos, recomenda-se garantir sobreposição fotográfica de, pelo menos, 65%-70%, além de planejar o levantamento em dias e horários cujos fatores ambientais e obstáculos no entorno possam ser previstos, reduzindo variabilidades na captura do objeto. Os achados demonstram que a fotogrametria, integrada à FID, fornece uma base métrica rigorosa e expõe padrões de degradação muitas vezes imperceptíveis durante a inspeção de campo, permitindo analisá-los com mais precisão e conforto a partir dos ortomosaicos gerados. O protocolo adotado mostrou-se replicável a outros conjuntos azulejares, fortalecendo rotinas de documentação e planos de manutenção preventiva e corretiva do patrimônio edificado. No entanto, cabe ressaltar que a fotogrametria pode ser limitada em situações de espaços restritos por cobertura vegetal ou edificações vizinhas.

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Seção
Engenharia Civil