Competições Acadêmicas como Estratégia para Reduzir a Evasão em Cursos de Engenharia: A Arena Micromouse

Resumo

A evasão nos cursos de engenharia representa um dos principais desafios enfrentados pelas instituições de ensino superior no Brasil. Diversos fatores contribuem para esse cenário, como dificuldades com os conteúdos do ciclo básico, baixa motivação, ausência de vínculo com o curso escolhido e escassez de experiências práticas e contextualizadas durante a formação (CHRISTO et al., 2018; LEITE et al., 2022). Diante disso, a Escola Politécnica de Pernambuco, vinculada à Universidade de Pernambuco (UPE), desenvolveu o projeto Arena Micromouse com o objetivo de engajar estudantes de engenharia em uma experiência prática, interdisciplinar e desafiadora, utilizando a robótica como ferramenta pedagógica. A iniciativa está fundamentada na metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL), com integração de disciplinas como Eletrônica, Sistemas de Controle, Microcontroladores, Expressão Gráfica e Programação. O projeto consistiu no desenvolvimento de uma competição interna de micromouse, na qual os alunos foram desafiados a construir robôs autônomos capazes de percorrer um labirinto no menor tempo possível, respeitando as regras definidas por competições internacionais (MISRA, 2018; ROBOCORE, 2024). A metodologia adotada envolveu fases bem definidas: concepção e modelagem 3D do robô utilizando o software Autodesk Inventor; projeto eletrônico da PCB com componentes acessíveis como o microcontrolador ESP32, sensores ultrassônicos HC-SR04 e motores com encoders; montagem da estrutura física com impressão 3D; e implementação do firmware utilizando a linguagem C++ na plataforma Arduino IDE. Durante o desenvolvimento, os estudantes aplicaram algoritmos como seguidor de parede e flood fill, permitindo o reconhecimento do ambiente e a tomada de decisões autônomas. Para testes iniciais, foi criado um aplicativo web simples, onde os comandos de movimentação podiam ser enviados diretamente ao robô. O sistema também incluía uma função de segurança que impedia o avanço quando um obstáculo era detectado a curta distância. Para garantir a estabilidade do comportamento do robô, foi implementado controle proporcional (P) e posteriormente o controle PID, melhorando a resposta dos motores frente às leituras dos sensores. Os testes foram realizados em uma arena modular construída em MDF, cuja estrutura foi projetada para simular diferentes níveis de dificuldade, promovendo desafios progressivos aos participantes. Nessa fase inicial de desenvolvimento do projeto Arena Micromouse, mesmo sem a realização de competições, os resultados já demonstram impactos significativos na formação técnica e socioemocional dos alunos envolvidos. Durante a montagem dos robôs e da arena, os estudantes foram desafiados a trabalhar em áreas diversas da Engenharia Eletrônica, como modelagem 3D, soldagem de componentes e programação de algoritmos de controle e navegação, o que ampliou suas competências técnicas e fortaleceu habilidades interpessoais essenciais, como trabalho em equipe e comunicação. A abordagem diversificada do projeto, dividida entre hardware, firmware e estrutura da arena, gerou um ambiente colaborativo, onde cada participante contribui ativamente e fortalece o sentimento de pertencimento ao curso e à identidade profissional em formação. Além do aprendizado técnico, as atividades práticas e o uso de recursos integrados ao processo formativo (programação de aplicativos, modelagem 3D, simulações de circuitos, design de placas de circuito impresso etc.) mostraram-se poderosos estímulos à permanência no curso, reforçando a importância dos conteúdos teóricos e transformando a percepção dos alunos em relação ao seu curso, aproximando-o das demandas do mercado de trabalho. O suporte técnico dos professores e o clima de troca de experiências entre alunos criaram um ambiente dinâmico e acolhedor que estimula o aprendizado. Mesmo sem a competição inaugural, prevista para outubro de 2025, já é possível afirmar que o projeto Arena Micromouse cumpre seu papel, combatendo a evasão acadêmica e promovendo o crescimento profissional. A análise da iniciativa revela que projetos como esse despertam um senso de protagonismo e responsabilidade que ultrapassa a sala de aula, preparando os estudantes para o mercado de trabalho e para o exercício ético da profissão, ao mesmo tempo em que reforçam a cultura do aprendizado contínuo e do compartilhamento de conhecimento.