Proposta de Dispositivo de Baixo Custo para Detecção de Corrente Elétrica em Postes de Iluminação Pública em Áreas Alagadas na Cidade do Recife

Resumo

O aumento da frequência e intensidade de alagamentos em áreas urbanas brasileiras, agravado pela urbanização desordenada e pelas mudanças climáticas, expõe a população a riscos elétricos significativos, principalmente devido a postes de iluminação pública energizados em vias inundadas. Em fevereiro de 2025, um caso fatal ocorrido na Rua Dom Bosco, no bairro da Boa Vista, Recife, em que um jovem morreu eletrocutado ao atravessar uma rua alagada, evidenciou a urgência de medidas preventivas. A literatura nacional e internacional apresenta soluções voltadas à detecção de alagamentos e monitoramento estrutural de postes, como sensores ultrassônicos, sistemas de Internet das Coisas (IoT) e monitoramento de tensão e corrente (Pinheiro, 2011; Quattrocchi et al., 2023; Santos, 2023). Entretanto, há uma lacuna no desenvolvimento de dispositivos simples e de baixo custo que integrem a detecção de alagamento com o risco elétrico. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo propor o desenvolvimento de um dispositivo compacto, de baixo custo e alimentado por energia solar, capaz de detectar a presença de corrente elétrica em postes de iluminação pública localizados em áreas sujeitas a alagamentos e emitir alertas visuais e sonoros à população. A metodologia adotada foi de caráter exploratório e descritivo, estruturada em três etapas principais: levantamento de dados junto à população residente em bairros historicamente afetados por alagamentos no Recife, análise interpretativa e espacial dos dados obtidos e concepção do protótipo de detecção. O levantamento foi realizado por meio de formulário estruturado, distribuído online via Google Forms, obtendo 58 respostas válidas de moradores de bairros como Afogados, Boa Vista, Casa Amarela e Santo Amaro. Foram coletadas informações sobre frequência de alagamentos, percepção de risco elétrico e experiências pessoais com acidentes ou quase-acidentes envolvendo eletricidade durante inundações. Dos participantes, 37,9% relataram que suas áreas alagam ocasionalmente e 20,7% afirmaram que alagam com frequência, totalizando 58,6% expostos regularmente a alagamentos. Em relação à percepção de risco elétrico, 60,3% já presenciaram situações de risco com poças de água possivelmente energizadas e 96,6% já observaram postes com fiações soltas ou oferecendo perigo, evidenciando a vulnerabilidade da infraestrutura urbana. A análise dos dados permitiu identificar regiões prioritárias para a instalação do dispositivo e reforçou a necessidade de uma solução preventiva acessível. Diversos relatos qualitativos apontaram a relevância social da proposta e a urgência de dispositivos de alerta em áreas alagadas. O protótipo idealizado é composto por um detector de tensão alternada sem contato, sondas condutivas para detecção da presença de água, um microcontrolador de baixo consumo energético e sistema de sinalização sonora e visual. A alimentação ocorre por meio de mini placa solar e bateria recarregável, garantindo operação contínua mesmo à noite ou em dias nublados. O dispositivo permanece em modo de espera até a combinação de duas condições: presença de água e detecção de campo elétrico. Quando ambas ocorrem, o sistema emite um alarme sonoro agudo e intermitente, aliado a LEDs de alto brilho piscando, alertando a população próxima. O circuito eletrônico é protegido por caixa resistente à chuva e poeira, com isolamento elétrico reforçado para evitar condução acidental. Os resultados parciais indicam que o protótipo é tecnicamente viável, com custo estimado entre R$ 175,00 e R$ 250,00 por unidade em produção artesanal, podendo ser reduzido para cerca de R$ 150,00 em produção em escala. A aceitação social demonstrada na pesquisa, aliada ao baixo custo e à simplicidade do sistema, reforça o potencial da proposta para integração em políticas de prevenção de acidentes elétricos urbanos. Conclui-se que o dispositivo representa uma medida complementar à gestão de riscos urbanos em cidades com recorrentes episódios de alagamento, contribuindo para a mitigação de acidentes por choque elétrico e eletrocussão. Recomenda-se, para etapas futuras, a realização de testes em campo, ajustes de sensibilidade do sistema a diferentes níveis de condutividade da água e articulação com órgãos públicos para implantação piloto em áreas críticas do Recife.