Construção de Controlador Lógico Programável de Baixo Custo para Fins Didáticos

 

Construction of Low-Cost Programmable Logic Controller for Educational Purposes

 

                       

Yuri Barros de Miranda Neves1 orcid.org/0000-0002-8722-3498

 

Diogo Roberto Raposo de Freitas1 orcid.org/0000-0002-5023-699X

 

1Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil.

 

E-mail do autor principal: Yuri Barros de Miranda Neves yuribmneves@gmail.com

 

RESUMO

 

Montar laboratórios de automação industrial com aparatos de práticas com controladores lógicos programáveis comerciaissão custosos para Universidades Públicas de Ensino. A proposta deste trabalho é criar um controlador lógico programável de baixo custo para aplicações didáticas. Foi feito o circuito eletrônico e utilizado softwares de uso livre Ladder Maker e Arduino. O circuito eletrônico foi planejado com componentes de baixo valor de compra no mercado. A confiabilidade dos componentes eletrônicos utilizados não foi de análise criteriosa para que o custo de fabricação não elevasse. Foi realizada uma comparação do custo total do projeto do CLP de baixo custo com o custo de aquisição de CLPs à venda no mercado e foi possível comprovar que o custo fica em torno de 15% comparado aos equipamentos de empresas tradicionais. A vantagem do valor de confecção deste CLP se sobressai mesmo com menor confiabilidade, visto que a ideia é para fins didáticos.

PALAVRAS-CHAVE: Controlador lógico programável; Ensino de Engenharias; Aplicações Didáticas.

 

ABSTRACT

 

Assemblin gindustrial automation laboratories with practical apparatus with commercial Programmable Logical Controllers (PLC)is costly for Brazilian public universities. The proposal of this paper is to create a programmable logic controller for didactic applications. It was made the electronic circuit and used free-software Ladder Maker and Arduino. The electronic circuit was designed with low-cost components in the market. The reliability of the electronic components used was not of careful analysis so that the cost of manufacture did not rise. A cost comparison was made between the proposed PLC project and purchasing PLCs sold in the market and it was possible to show that the cost is around 15%. The advantage of the manufacturing value of this PLC stands out even with less reliability since the idea is for didactic purposes.

 

KEY-WORDS: Programmable Logic Controller; Engineering Education; Didactic Applications.

 

 


1 INTRODUÇÃO

Controladores lógicos programáveis (CLPs) estão presentes no controle de processos industriais há décadas [1]. Indústrias que querem automatizar sua produção utilizam os controladores lógicos programáveis para comandar os atuadores do processo. Os CLPs foram os grandes responsáveis pela revolução da indústria 3.0 [1]. Dessa forma, para os alunos de cursos de formação técnica que contemplem área de atuação em indústrias, por exemplo, Engenharia de Automação e Controle, precisam estar familiarizados com estes equipamentos já que atuarão com estes em seus futuros locais de trabalho.

Entretanto, a situação das universidades públicas com cortes de verbas acaba dificultando as melhorias de laboratórios [2]. Em específico, laboratórios de automação industrial, o aproveitamento do aprendizado por cada aluno seria maior se houvessem CLPs suficientes para todos. Com quantidades destes equipamentos insuficientes para a turma de alunos há maior esforço por parte dos docentes e discentes para que haja um aproveitamento do aprendizado sobre os controladores lógicos programáveis. Somente a teoria não é suficiente para a formação neste assunto.

Dois outros trabalhos em português foram encontrados na plataforma Periódicos da Capes, após pesquisa usando as palavras-chave “CLP” e “educacional”.  O trabalho de Castilho et al. [3] aborda o desenvolvimento de uma plataforma de produção automatizada, e usa um CLP comercial em parte do sistema. Um kit educacional para controle de nível foi produzido por Pereira et al. [4], que também utiliza um CLP comercial. Portanto, percebe-se na literatura a necessidade de construção de um CLP de baixo custo para aplicações educacionais.

Diante deste cenário, propõe-se uma medida para mitigar a falta de CLPs em laboratórios de Universidades: o desenvolvimento de um CLP de baixo custo. Inspirada na onda do “faça você mesmo” (DIY – Do It Yourself), a ideia é montar um CLP de baixo custo de modo que os alunos possam comprar os materiais e fabricar os seus próprios CLPs para as aulas ou ainda fazer com que o orçamento da instituição consiga adquirir CLPs pelo baixo custo de cada unidade comparado aos vendidos no mercado. Espera-se que com esta medida as aulas que precisem de CLPs para parte prática fiquem mais proveitosas para os alunos. De forma que o aluno poderá até praticar em sua casa, já que ele terá o seu próprio CLP.

Este artigo está organizado em cinco seções. A Seção 2 descreve o dimensionamento dos circuitos que compõem o CLP proposto e o software utilizado para programação na linguagem Ladder. Na Seção 3 são apresentadas a placa de circuito impresso do CLP proposto e a interface do Ladder Maker para escrita da programação pelo usuário. A análise de custos entre o protótipo e três CLPs comerciais é feita na Seção 4. A Seção 5 apresenta as conclusões.

 

2 MATERIAIS E MÉTODOS

 

Para a construção de um controlador lógico programável, pode-se dividir o processo em duas vertentes: uma é a construção do hardware que engloba toda a estrutura física do equipamento, e a outra é a elaboração do software que corresponde ao sistema de programação que vai manipular o equipamento acionando e desligando suas entradas e saídas. Os detalhes de cada elaboração do software e hardware são apresentados a seguir.

 

 

2.1 Hardware

 

Analisando os CLPs mais utilizados na indústria e conferindo seus respectivos catálogos dos fabricantes, nota-se que eles possuem a seguinte configuração mínima: circuitos de entradas e saídas digitais (discretas) e analógicas, processador digital (CPU), memórias de programa (ROM) e de dados (RAM), canal de comunicação com um PC e fonte de alimentação elétrica [5]. Baseado nessa configuração mínima dos CLPs de mercado, foi planejada a configuração do hardware do CLP de baixo custo. Ele conterá:

 

- Tensão de operação em 24VCC;

- 4 entradas de 24VCC;

- 4 saídas por contato seco;

- 2 entradas de 4 a 20mA;

- 2 saídas de 4 a 20mA.

 

Estas duas entradas e duas saídas de 4 a 20mA foram concebidas devido ao padrão industrial de sensores e atuadores que trabalham nesta faixa de operação de corrente [6]. Para a integração destas entradas e saídas se faz necessário haver um controlador, que recebe as informações da programação do software de controle e atua na leitura ou escrita das portas de entrada e saída. Como a ideia é baratear o produto, foi escolhida uma plataforma de hardware que fosse open hardware e open software de forma que não haja custos com pagamento de licenças de uso. A plataforma escolhida foi o Arduino©, pela sua disponibilidade no mercado local e fácil utilização, pois se baseia no sistema plugand play, mas especificamente o ArduinoNano© que é uma das placas da plataforma [7].

 

Alimentação do CLP

A escolha da alimentação de 24 VCC foi feita por ser um padrão industrial comum para sistemas de controle de extra baixa tensão [8]. Dessa forma, este CLP poderia ser incluído em algum teste de controle de processo industrial. Contudo, internamente há uma redução desta tensão para uma tensão de operação de 12 VCC e de 9 VCC. A tensão de 12 VCC é utilizada para a operação das entradas e saídas de 4 a 20 mA. A tensão de 9 VCC é utilizada para alimentar a unidade de controle central e alimentar o circuito de saída a contato seco utilizando relés eletromecânicos.

A redução desta tensão de 24 VCC para 12 VCC e 9 VCC é realizada a partir de dois circuitos integrados (CI) reguladores de tensão, o CI 7812 e 7809. Estes CIs convertem a tensão de entrada em uma tensão de saída reduzida e regulada [9]. O problema destes CIs é o baixo rendimento, pois a diferença de tensão de entrada com a tensão de saída gera uma queda de potencial elétrico que é transformado em calor no circuito integrado, fazendo com que eles esquentem por seu próprio funcionamento. Poderia ter-se escolhido outra forma de reduzir a tensão de 24 VCC para 12 VCC e 9 VCC, mas devido ao baixo custo de aquisição destes CIs eles foram as melhores opções de projeto. O circuito de entrada da alimentação pode ser visto na Figura 1.

 

Figura 1: Circuito de alimentação do CLP.

Fonte: O autor.

 

Entradas de tensão 24 VCC

O circuito de leitura de entrada de 24 VCC é apresentado na Figura 2.

 

Figura 2: Circuito de leitura de tensão 24 VCC.

Fonte: O autor.

 

O circuito é baseado na ideia da percepção de corrente elétrica por parte do controlador quando houver 24 VCC conectado à entrada do CLP. Há várias maneiras de montagem de um circuito eletrônico para este objetivo. Contudo, foi escolhida a utilização de um optoacoplador para esta interface. A escolha se deu de forma a garantir maior segurança ao circuito eletrônico do CLP, visto que o optoacoplador não possui contato elétrico entre seus circuitos de entrada e saída, de forma que há uma isolação óptica entre seus terminais.

Nos terminais de entrada do optoacoplador coloca-se um resistor para limitar a corrente oriunda da entrada 24 VCC. Há diversos optoacopladores no mercado, pelo menor custo e fácil aquisição foi escolhida a utilização do EL817 que atende aos requisitos do projeto e possui queda de tensão de funcionamento no LED interno de 1,2 VCC[10]. Com entrada de 24 VCC, corrente de entrada do optoacoplador de 20 mA e queda de tensão no LED interno ao optoacoplador de 1,2 VCC o cálculo do resistor () a ser utilizado se dá pela Equação (1):

 

                (1)

 

Para valores de tensão maiores e menores de 24 VCC o circuito também irá funcionar, pois haverá uma passagem de corrente entre os terminais de entrada do optoacoplador. O EL817 possui uma corrente máxima de operação para o LED interno de 60 mA, desta forma, na Equação (2) temos o valor máximo de tensão () que pode-se colocar na entrada do CLP para que não haja queima do optoacoplador:

 

(2)

 

Para valores de entrada que não forneçam corrente suficiente para acionar o LED interno do optoacoplador, o controlador principal não irá detectar que há alguma tensão na entrada. Isto ocorrerá para uma corrente de entrada de 5mA [8]. Pela Equação (3) encontramos o valor relativo da tensão em que o controlador não detectará leitura na entrada do CLP.

 

(3)

 

Nos terminais do fototransistor do EL817 temos conectado ao coletor uma tensão de 5 VCC oriunda do controlador e um resistor de pull-down ligado ao referencial do sistema. Por padrão, foi utilizado um resistor de pull-down de 1 k.

Ainda no terminal do emissor do fototransistor está ligado a uma entrada digital do circuito do microcontrolador do CLP. Assim que o fototransistor saturar, ou seja, o LED interno do optoacoplador estiver acionado, haverá uma passagem de corrente entre o coletor e emissor do fototransistor que por sequência também haverá uma corrente atravessando os terminais do resistor de pull-down, criando uma diferença de potencial em cima do resistor. Esta diferença de potencial será detectada pelo controlador, devido que uma das entradas do controlador está conectada ao resistor de pull-down. Com isto, o microcontrolador do CLP detecta se há ou não tensão na entrada do sistema pela leitura de nível lógico de tensão no resistor de pull-down do circuito de interface da entrada.

Saídas a contato seco

O circuito de saída à contato seco é apresentado na Figura 3.

 

Figura 03: Circuito de saída de contato à relé.

Fonte: O autor.

 

O princípio do circuito é o chaveamento da corrente que atravessa a bobina dos relés pela corrente oriunda do controlador principal para o LED do optoacoplador. Se o optoacoplador for acionado então o relé também é acionado, comutando seus contatos normalmente fechado (NF) e normalmente aberto(NA). Pelo motivo do circuito de leitura das entradas do CLP já utilizarem o optoacoplador EL817 então foi escolhido o mesmo para compor o circuito de acionamento das saídas.

Para fazer esta interface de chaveamento de controle utiliza-se de um transistor bipolar de junção NPN com terminal de base ligado ao terminal emissor do optoacoplador chaveado pela unidade central de controle. O uso deste transistor se fazer necessário, pois os optoacopladores não possuem uma grande capacidade de condução de corrente [10]. Há uma gama de transistores que podem ser utilizados nesta aplicação. A família de transistores BCXXX consegue suprir esta necessidade. Desta forma, o transistor escolhido foi o BC337 pelo preço e facilidade de encontrar no comércio local [11]. O diodo colocado entre os terminais da bobina do relé é para a proteção do circuito quando ocorre a rápida comutação de corrente que atravessa a bobina originando uma tensão muito alta [12].

Para a fonte de alimentação deste circuito de saída foi utilizada a saída do CI 7809 que corresponde à 9 VCC. A escolha foi baseada no uso de menor potência para o CLP.

Como uma corrente de 5mA é suficiente para saturar o transistor  (vide Fig. 3) [11] e o valor fornecido pelo microcontrolador é de 5 VCC, então o valor mínimo do resistor  é dado pela Equação (4):

 

                    (4)

 

Consultando os manuais de fabricante de relés, percebe-se que correntes de 30 mA são suficientes para acioná-los [12]. Assim o valor deste resistor  é mostrado na Equação (5).

 

                    (5)

 

Também há um resistor  ligado ao terminal anodo do LED do optoacoplador. Este resistor limita a corrente fornecida pelo controlador central, impedindo que o LED do optoacoplador entre em falha. O controlador fornece uma tensão de 5 VCC e o LED do optoacoplador opera com corrente de 20 mA, pela Equação (6) vemos o valor para este resistor.

 

                    (6)

 

Este circuito possui formato de saída padrão de CLPs comerciais, usando contatos de um relé eletromecânico que podem ser usados em circuitos de corrente alternada. Desta forma, é possível controlar o acionamento de vários circuitos e equipamentos de maior potência como: circuitos de comando de motores elétricos, sessões de iluminação, máquinas industriais, autoclaves, dentre outros.

 

Entradas analógicas de corrente de4 mA a 20 mA

Como é um padrão industrial para sensores e atuadores [8], foram incluídas entradas e saídas de corrente de 4mA a 20 mA. O circuito básico está esquematizado na Figura 4, e possui como elemento central o CI LM324.

Figura 4: Circuito de entrada de 4mA a 20 mA.

Fonte: O autor.

 

O princípio deste circuito da Figura 4 é o conceito de que uma corrente atravessando uma resistência elétrica gera uma diferença de potencial elétrico. Diante disto, pode-se saber a respectiva tensão elétrica gerada pela corrente de 4mA a 20 mA nos terminais de entrada do CLP.

Um circuito com um resistor entre os terminais de entrada do CLP seria suficiente para captar a leitura de tensão nos terminais de entrada. Entretanto, o circuito de leitura do controlador lógico principal acaba que por interferindo na aferição da diferença de potencial, pois a corrente, que antes só atravessaria o resistor, também passaria a atravessar o controlador central por meio de seu circuito de leitura interno, algo que não é desejado visto que a leitura da tensão entre os terminais do resistor seria divergente da real corrente fornecida na entrada.

Desta forma, precisa-se colocar uma interface de isolação entre os terminais de entrada que recebem a corrente elétrica de 4mA a 20 mA para os terminais de leitura internos do controlador central. Um circuito que consegue suprir esta necessidade é um amplificador operacional na configuração amplificador diferencial de ganho unitário, replicando na saída a diferença de potencial elétrico nos terminais de entrada [13].

A configuração dos resistores , ,  e  na Fig. 4 conectados aos terminais positivo e negativo do amplificador operacional formam um circuito de ganho unitário. Desta forma, a diferença de potencial elétrico no resistor  será replicada no terminal de saída do amplificador operacional. A isolação deste tipo de circuito é dada pela elevada impedância entre os terminais de entrada do amplificador operacional [13].

Este circuito possui um detalhe técnico sobre o sentido de corrente na entrada do CLP. A tensão nos terminais do amplificador operacional deve estar de uma forma que o maior potencial esteja no terminal da entrada não-inversora do amplificador operacional e o menor potencial no terminal da entrada inversora, para que a tensão de saída seja positiva. Há a necessidade de que a tensão de saída do amplificador operacional seja positiva em relação ao referencial do circuito, pois o controlador central possui a especificação de leitura de tensões de 0 a 5 VCC. Uma tensão negativa, oriunda da inversão do sentido da corrente acabaria por fornecer uma leitura errônea ao controlador central, já que o amplificador operacional saturaria em 0[11]. Analisando a Fig. 4, nota-se que o sentido da corrente elétrica colocada na entrada do CLP precisa seguir o fluxo do Terminal 2 para o Terminal 1.

O resistor  conectado aos terminais de entrada de 4 mA a 20 mA do CLP tem valor calculado na Equação (7), visto que a corrente especificada máxima fica em 20 mA e a tensão máxima de leitura é de 5VCC:

 

                  (7)

 

Os resistores do circuito de ganho unitário do amplificador operacional foram escolhidos para que haja a menor dissipação de potência com uma alta impedância. Para formar o ganho unitário basta que todos os quatro resistores sejam de mesmo valor. Há uma pequena diferença entre os valores dos resistores devido à faixa de tolerância, entretanto alta confiabilidade não é o foco do CLP de modo que este um problema da faixa de tolerância é aceitável ao projeto. O valor escolhido foi de 10 k.

Como o controlador central só permite leituras de 0 a 5 VCC em seus terminais, foi colocado um diodo zener de 5 VCC na saída do amplificador operacional para evitar que ocorra algum dano do circuito interno de leitura por algum eventual aumento da corrente de entrada do CLP.

O amplificador operacional escolhido foi o CI LM324 [14]. Este CI possui quatro amplificadores operacionais internos e não necessita de alimentação simétrica de forma que se encaixa na especificação da necessidade do circuito de leitura de entrada de 4mA a 20 mA. Do CI foram utilizados dois amplificadores operacionais para a entrada e dois foram utilizados para a saída de analógica, conforme será apresentado a seguir. Como a alimentação do CI é a mesma, a alimentação dos amplificadores operacionais é de 12 VCC.

 

Saídas analógicas de corrente de 4mA a 20 mA

Assim como as entradas de leitura de corrente de 4mA a 20 mA permitem que o CLP se comunique com sensores industriais, estas saídas permitem o controle de atuadores industriais. A Figura 5 mostra o circuito para as saídas analógicas.

 

Figura 5: Circuito de saída de corrente.

Fonte: próprio autor.

 

Neste circuito, utiliza-se o conceito de seguidor de tensão utilizando amplificadores operacionais junto com um transistor de bipolar de junção. A tensão de saída () de um amplificador operacional é dada pela Equação (8), onde  simboliza o ganho.

 

        (8)

 

Como os ganhos dos amplificadores operacionais são extremamente elevados [13], vê-se pela Equação (11) a tensão de entrada no terminal positivo é a mesma da entrada no terminal negativo.

 

                (9)

 

                (10)

 

                              (11)

 

 

Diante desta particularidade, usa-se o artifício de colocar um resistor ligado à entrada do terminal negativo que também está ligado em realimentação negativa para que haja uma corrente constante fluindo pelo resistor . Esta corrente será dada seguindo a Lei de Ohm e será calculada para resultar em uma corrente de 4mA a 20mA de acordo com a entrada do terminal positivo do amplificador operacional pela Equação 12.

 

                     (12)

 

Diante destas informações, percebe-se que uma carga colocada nos terminais de saída analógica do CLP não vai modificar a corrente que flui do coletor ao emissor do transistor,pois o amplificador operacional estabiliza a corrente no resistor  pela tensão do terminal positivo mantendo uma corrente constante.

Para fazer o controle da tensão colocada sobre o terminal não-inversor do amplificador operacional, o controlador central usa uma modulação de pulsos (PWM – Pulse WidthModulation), visto que a diferença de potencial fornecida pelo controlador assume dois estados 0 ou 5VCC. Um circuito RC é utilizado para converter os pulsos oriundos do controlador central para um nível de tensão mais estável em uma faixa de valores de 0 a 5VCC. Pelas Equações (13) a (18), percebe-se que as tensões de entrada do amplificador operacional precisam variar entre os valores 0,6V e 3V, para que a corrente de saída tenha valores de 4mA a 20mA.

        (13)

 

                          (14)

 

                           (15)

 

                     (16)

 

                            (17)

 

                         (18)

 

O cálculo do circuito RC para essa faixa de valores é visto na Equação (19), analisando a impedância do capacitor.

                             (19)

 

               (20)

 

Para 3V máximo na entrada não inversora temos:

 

                  (21)

 

                     (22)

 

                  (23)

 

                          (24)

 

                          (25)

 

A frequência de 490Hz é a frequência no terminal digital 9 do controlador central [15]. Porém, calcular um filtro para uma frequência muito próxima á frequência que se deseja atenuar faz com que o filtro não seja tão eficaz [15], assim foi escolhida a frequência de 300Hz. Tem-se:

 

                           (26)

 

                                (27)

 

Desta forma, a partir de uma modulação PWM do controlador central consegue-se controlar a corrente de saída do CLP.

 

Controlador Central

O controlador central é a “inteligência” do CLP. É similar como o CPU de um computador. É por meio do controlador central que é possível programar o CLP proposto.

Para o controlador central do CLP de baixo custo foi utilizado o microcontrolador ATMEGA328P, mais especificamente o microcontrolador na placa da plataforma open hardware Arduino Nano© [7]. A escolha do uso da plataforma foi pela sua disponibilidade de integração a projetos de controladores e pelo seu baixo custo no mercado comparado a outras plataformas, além de sua interatividade com o software de programação LadderMaker [17].

 

2.2 Software

 

Existe uma norma internacional chamada IEC 61131-3 que normatiza as linguagens de programação para os CLPs [16]. Como o intuito é a construção de um CLP mesmo que de baixo custo devemos seguir esta norma para que a assimilação do conteúdo por parte do aluno não seja deficitária em relação ao que o mercado de trabalho solicita.

A elaboração de um software de programação para um CLP envolve uma gama de dificuldades que não tem valor agregador ao projeto, visto que este aprendizado ficaria apenas para o programador do software. Além de que há um custo de pagamento de horas de programação a um programador para que o software fosse elaborado. Para diminuir o custo e facilitar a utilização do CLP por quaisquer aluno, foi-se buscado na internet o software chamado LadderMaker [17]. Caixa de texto: Figura 6: Circuito completo em CAD do CLP de baixo custo. 
Fonte: Oautor.

O LadderMaker é um software de uso livre (open software). Não necessitando pagamento de licenças de uso. O software permite que o usuário programe o CI ATMEGA328P da placa Arduino Nano por meio da linguagem de programação Ladder [18, 19]. Dessa forma, o CLP desenvolvido está em conformidade com a IEC 61131-3 no que se refere à linguagem de programação Ladder.

 

3 IMPLEMENTANDO O CONTROLADOR LÓGICO PROGRAMÁVEL

 

A Figura 6 apresenta o circuito total do CLP desenhado no CAD Isis Proteus©. A definição dos pinos de entrada e saída do controlador central foi baseada pela especificação de escolha do software LadderMaker,pois o software vem com uma pré-configuração de funcionamento com os pinos de entrada e saída do Arduino Nano©,conforme Figura 7.

 


 

 

IO diagram

Figura 7: Pinos dedicados ao controlador pelo LadderMaker.

Fonte: [15].

 

3.1 Diagrama esquemático para placa de circuito impresso

 

Utilizando o software de desenho auxiliado por computador ISIS PROTHEUS© foi feito o desenho da placa de circuito impresso para o controlador lógico programável de baixo custo. O desenho do circuito impresso foi realizado para permitir que os alunos pudessem ter a possibilidade de fabricar o seu próprio CLP de baixo custo.

A Figura 8 apresenta o desenho da placa de circuito impresso. Para a conexão do CLP com o mundo externo, seja por entrada ou por saídas foram utilizados, no desenho, bornes de conexão colocados em um mesmo lado da placa à ser confeccionada de modo que haja facilidade na conexão do cabeamento no CLP já que todos os bornes estão em um mesmo lado.

 

Figura 8: Desenho da placa de circuito impresso. Fonte: próprio autor.

 

3.2 Manipulação do software LadderMaker

 

O programa LadderMaker é distribuído gratuitamente na internet sob a licença GPL 3.0 [18]. Não é necessário fazer sua instalação. Contudo, até a data de elaboração deste documento, o software só estava disponível para sistemas operacionais Linux e Windows 7. NaFigura 9 é mostrada a tela inicial do LadderMaker para a versão do sistema operacional Windows 7.

 

Figura 9: Tela inicial do LadderMake.

Fonte: O autor.

 

O programa permite utilizar as funções da linguagem de programação Ladder para programar as placas da plataforma Arduino(Uno, Nano e Mega). É possível utilizar as funções de contato aberto, contato fechado, contador, timer, operações aritméticas e lógicas, sinal em rampa,entrada e saída analógica, como também saída em pulso de onda modulada, tornando o uso do software bastante eficaz para uso didático. A Figura 10 apresenta algumas funções de entradas e saídas no LadderMaker.

 

Figura 10: Exemplo de funções implementadas no software LadderMaker.

Fonte: O autor.

 

A simplicidade da interface de usuário do LadderMaker o torna uma boa escolha para compor a solução de um CLP de baixo custo para fins didáticos, onde o intuito é acelerar a curva de aprendizado dos estudantes.

 

4 COMPARATIVO DE CUSTOS

 

Na Tabela 1 encontra-se o quantitativo e o custo total dos materiais do projeto de construção do CLP didático proposto. Custando um valor médio menor do que R$100,00 é possível montar um CLP para acompanhar as aulas práticas teóricas de disciplinas de estudos de automações industriais.

 

Tabela 1:Quantitativo de itens para confecção do CLP.

Fonte: O autor.

 

Para efeito de comparação, a Tabela 2exibe o valor de alguns modelos de CLP compactos de marcas atuantes no mercado [5], que são de porte comparado ao CLP didático. Percebe-se que há uma vantagem inicial financeira devido ao baixo custo do CLP aqui proposto. Salientando que o custo do projeto citado inclui somente os materiais para confecção, não incluindo custo de mão de obra e encargos financeiros.

 

 

Tabela 2: Preços de compra de CLPs de modelo básico.

Fonte: O autor.

 

Ressalva-se que os custos foram listados para a construção de um protótipo funcional, que permite ao aluno realizar as práticas da aula de CLP. Na Figura 11, tem-se a foto do circuito montado em protoboard. A imagem apresenta o protótipo montado com uma placa Arduino Uno, por indisponibilidade de um Arduino Nano no momento da fotografia. Porém, esse fato não interfere na concepção do projeto, pois o Uno possui maior quantidade de terminais de entrada e saídas que apenas não foram utilizadas.

 

Figura 11: Circuito protótipo montado em protoboard. Fonte: O autor.

 

5 CONCLUSÕES

 

Nota-se uma diferença em entre o custo de confecção do CLP proposto neste trabalho eos preços de venda dos controladores mais básicos oferecidos pelas principais empresas de mercado.

As configurações de número de entradas e saídas e tipos de entrada e saída do CLP de baixo custo são similares aos equipamentos de mercado. Desta forma, as principais práticas de laboratório CLP poderão ser realizadas. A experiência dos alunos será mais interativa, pois os próprios alunos podem confeccionar seus CLPs, possibilitando que eles entendam mais profundamente as características de hardware, e consigam realizar diagnósticos sobre o equipamento e projetem novos componentes, habilidades que não são desenvolvidas quando existem CLPs prontos nos laboratórios. E a instituição de ensino também poderá adquirir mais CLPs permitindo práticas individuais e de melhor qualidade, aliadas com a teoria.

No tocante aos materiais utilizados, são materiais de fácil disponibilidade para compra no mercado local e sem necessidade de licença de uso de fabricantes. O software também segue essa linha de não necessidade de licença, o que facilita a obtenção e uso do mesmo pelos alunos. Assim, pode-se afirmar que o objetivo de confeccionar um CLP para laboratórios de práticas de automação industrial de baixo custo foi alcançado.

Nota-se, porém, que este CLP de baixo custo dificilmente será uma solução definitiva para o mercado. Em processos industriais, a confiabilidade dos equipamentos deve ser alta e um CLP deve acompanhar este mesmo critério, tanto por seus componentes quanto por sua confecção.

Os próximos passos serão dedicados a tornar a solução mais completa, montando a placa em um gabinete apropriado e colocando adesivos de identificação das entradas e saídas e um canal de comunicação via rede RS-485, tornando um produto mais profissional para as exigências do mercado educacional.

 

REFERÊNCIAS

 

[1] SILVA, R. R. da. HISTÓRIA DO CLP. In: SILVA, R. R. da. Blog Automação Industrial, 21 nov. 2012.  Disponível em: https://goo.gl/msdGvd. Acesso em: 10 out. 2018.

 

[2] OLIVEIRA, C. Universidades Federais fecham laboratórios de cursos. In: PRAGMATISMO POLÍTICO, 31 ago. 2017.  Disponível em: https://goo.gl/yLhxni. Acesso em: 10 out. 2018.

 

[3] CASTILHO, R. A. et al. Apresentação de métodos para implementação de plataformas colaborativas de Sistemas Automatizados de Produção.  Revista Gestão da Produção, Operações e Sistemas, Bauru, Ano 7, n. 2, p. 81-95, 2012. DOI: https://doi.org/10.15675/gepros.v0i2.561. Disponível em: https://revista.feb.unesp.br/index.php/gepros/article/view/561.

 

[4] PEREIRA, J. P. P.; VALENTIM, R. A. M.; CASTRO, B. P. S. Kit Educacional para Controle e Supervisão Aplicado a Nível.  Holos, Ano 25, v. 2, p.68-72, 2009.

 

[5] GOOGLE SHOPPING. CLPs básicos. Disponível em: https://goo.gl/seMDy3. Acesso em: 11 out. 2018.

 

[6] FREITAS, C. M. Controladores Lógico Programáveis – CLP - Parte 3. In: EMBARCADOS. 11 fev. 2014. Disponível em: https://goo.gl/KXnD3r. Acesso em: 11 out. 2018.

 

[7] GUIA ARDUINO NANO. In: ARDUINO.  Disponível em: https://goo.gl/Kz9STc. Acesso em: 11 out. 2018.

 

[8] CASSIOLATO, C. Redes Industriais. In: SMAR TECHNOLOGY COMPANY, c2019. Disponível em: https://goo.gl/PnQJcv. Acesso em: 11 out. 2018.

 

[9] KEC. Datasheet CI 7805. Coréia. Revisão 1. 2010. 20p.

 

[10] EVERLIGHT. EL817. Disponível em: https://goo.gl/oGZLWK. Acesso em: 11 out. 2018.

 

[11] ONSEMI. Datasheet BC337. Colorado, EUA. Revisão 8. Nov. 2013. 5p.

 

[12] BRAGA, N. C. Como funcionam os relés. Instituto NCB. Disponível em: https://goo.gl/qdUANz. Acesso em: 18 out. 2018.

 

[13] SACCO, F. Buffers e Seguidores de tensão. Disponível em: https://goo.gl/a4eaVv. Acesso em: 18 out. 2018.

 

[14] TEXAS INSTRUMENTS. Datasheet LM324. Texas, EUA, 2015.

 

[15] FRITZEN, C. Criando uma saída analógica de 0 a 5V com arduino. Disponível em: https://goo.gl/Bu6aTw. Acesso em: 18 out. 2018.

 

[16] HEINZ, J.; TIEGELKAMP, M. IEC 61131-3: Programming Industrial Automation Systems. Alemanha: Springer-Verlag, 2001.  240p.

 

[17] LADDERMAKER. Laboratório de Garagem. Disponível em: https://goo.gl/LeMsX8. Acesso em: 18 out. 2018.

 

[18] PETRUZELLA, F. D. Fundamentos do desenvolvimento de diagramas e programas em lógica ladder para o CLP, em Controladores Lógico Programáveis, 4. ed. Mc Graw Hill Education, 2014.

 

[19] BOLTON, B. Programmable Logic Controllers, 4. ed. Newnes, 2006. (Capítulo 4 - Ladder and functional block programming)