Avaliação de Riscos em Pet Shop: Estudo de Caso

 

Risk Assessment in a Pet Shop: Case Study

 

Crisleide Nascimento1  
 orcid.org/0000-0003-1007-8429



Rayssa Valéria da Silva2  
 orcid.org/0009-0008-3596-4156



Vinícius F. B. de Azevedo3  
 orcid.org/0000-0001-6759-8105



Felipe Mendes da Cruz4
 orcid.org/0000-0002-0163-465X

Ana Rosa B. Martins5  
 orcid.org/0000-0003-4013-3011


 

1Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil. E-mail: crisleidenascimento@gmail.com

 

2Núcleo de Higiene e Segurança do Trabalho, Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil. E-mail: rvs1@poli.br

 

3Núcleo de Higiene e Segurança do Trabalho, Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil. E-mail: vfba@poli.br

 

4Núcleo de Higiene e Segurança do Trabalho, Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil. E-mail: felipemendeslsht@poli.br

 

5Núcleo de Higiene e Segurança do Trabalho, Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil. E-mail: anarosalsht@poli.br

 

 

 

OI: 10.25286/repa.v10i2.3158

 

 

Esta obra apresenta Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 Internacional.

 

Como citar este artigo pela NBR 6023/2018: Crisleide Nascimento; Rayssa Valéria da Silva; Vinícius F. B. de Azevedo; Felipe Mendes da Cruz; Ana Rosa B. Martins. Avaliação de Riscos em Pet Shop: Estudo de Caso. Revista de Engenharia e Pesquisa Aplicada, v.10, n. 2, p. 7-16, 2025.

 

 

RESUMO

 

O mercado pet brasileiro tem crescido exponencialmente nas últimas décadas, principalmente durante a pandemia do COVID 19, consolidando-se como um dos maiores do mundo. O estudo teve como objetivo identificar riscos ocupacionais em um pet shop com serviços integrados, propondo medidas preventivas para proteger a saúde dos trabalhadores. A metodologia envolveu visitas técnicas com uso da Análise Preliminar de Riscos (APR), análise do layout do estabelecimento e aplicação de checklist de segurança baseado em normas regulamentadoras, visando detectar não conformidades e sugerir melhorias. Os resultados indicaram que o setor de banho e tosa concentra os maiores riscos, com destaque para problemas ergonômicos e físicos. Entre as principais recomendações estão: uso de películas de controle solar, instalação de dispositivos de elevação e melhorias no ambiente laboral. Também foi elaborada uma cartilha educativa para orientar os profissionais do setor mais afetado. O estudo conclui que a adoção dessas medidas pode promover ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis no setor pet, recomendando a realização de novas pesquisas em outros estabelecimentos para ampliar a análise e fortalecer ações preventivas.

 

PALAVRAS-CHAVE: Análise preliminar de risco; Banho e tosa; Mercado pet; Riscos ocupacionais.

 

ABSTRACT

 

The study aimed to identify occupational risks in a pet shop with integrated services, proposing preventive measures to protect the health of workers. The methodology involved technical visits using Preliminary Risk Analysis (PRA), analysis of the establishment's layout and application of a safety checklist based on regulatory standards, aiming to detect non-conformities and suggest improvements. The results indicated that the bathing and grooming sector concentrates the greatest risks, with emphasis on ergonomic and physical problems. Among the main recommendations are: use of solar control films, installation of lifting devices and improvements in the physical environment. An educational booklet was also prepared to guide professionals in the most affected sector. The study concludes that the adoption of these measures can promote safer and healthier work environments in the pet sector, recommending that new research be carried out in other establishments to expand the analysis and strengthen preventive actions.

 

KEY-WORDS: Preliminary risk analysis; Bathing and grooming; Pet market; Occupational risks.

 

 



1 INTRODUÇÃO

 

O mercado pet brasileiro tem crescido exponencialmente nas últimas décadas, consolidando-se como um dos maiores do mundo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), o Brasil ocupa a terceira posição global em população de animais de estimação, com mais de 140 milhões de pets, o que impulsionou o faturamento do setor a R$ 68,7 bilhões em 2023, com projeções de R$ 77 bilhões para 2024 [1].

Este crescimento é impulsionado, sobretudo, pela tendência de humanização dos animais, que passaram a ser considerados membros da família. Tal fenômeno impulsionou a diversificação dos serviços, como creches, farmácias, clínicas veterinárias, hospedagem e estética animal [2]. No entanto, a rápida expansão do setor também evidenciou desafios relacionados à segurança e saúde ocupacional dos trabalhadores envolvidos, principalmente em setores como banho e tosa, onde há exposição a agentes físicos, biológicos, ergonômicos e químicos [3].

Dados do Anuário Estatístico da Previdência Social indicam que, em 2021, foram registrados 2.348 acidentes de trabalho no segmento de comércio varejista de artigos e alimentos para animais (CNAE 4789), com aumento expressivo em relação aos anos anteriores [4]. Tal cenário evidencia a urgência de estudos que analisem os riscos ocupacionais neste contexto e proponham intervenções que promovam ambientes de trabalho mais seguros.

A gestão eficaz de riscos requer a utilização de ferramentas que permitam a identificação, avaliação e priorização de perigos, para que se implementem controles coerentes com a realidade observada [5] [6]. Neste sentido, a Análise Preliminar de Riscos (APR), acompanhada da matriz de risco, se mostra apropriada para ambientes com alta variabilidade operacional, como os pet shops.

Assim, este artigo tem como objetivo apresentar um estudo de caso realizado em uma empresa do setor pet localizada em Paulista–PE, analisando os riscos ocupacionais presentes nos diversos setores da empresa e propondo medidas de controle e prevenção. A pesquisa visa contribuir com a literatura e com a prática da Engenharia de Segurança do Trabalho ao abordar um segmento em expansão, mas ainda pouco explorado sob a ótica da saúde ocupacional.

 

2 METODOLOGIA

 

A pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso descritivo, com abordagem qualitativa e quantitativa, desenvolvido em um pet shop localizado no município de Paulista – PE, com atuação consolidada no mercado há mais de 20 anos. O estudo foi estruturado de acordo com os princípios de boas práticas em avaliação de riscos ocupacionais, conforme a norma ISO 31000:2018 e a NBR IEC 31010:2021, aliando observações diretas, aplicação de instrumentos e análise normativa [7].

 

2.1 LEVANTAMENTO DE DADOS

 

O levantamento de dados foi conduzido em três etapas principais:

·         Observação direta dos postos de trabalho: realizada por meio de visitas técnicas in loco nos setores de atendimento, banho e tosa, farmácia e clínica veterinária;

·         Análise do layout do estabelecimento: incluindo medições e identificação de pontos críticos no arranjo físico (layout);

·         Aplicação de um checklist com base nas Normas Regulamentadoras vigentes (Portaria MTP n.º 3.214/1978), como NR 1, NR 6, NR 9, NR 17 e NR 23, a fim de verificar a conformidade do ambiente com a legislação de segurança e saúde no trabalho.

 

2.2 ANÁLISE DOS RISCOS OCUPACIONAIS

 

A ferramenta utilizada para a avaliação dos riscos foi a Análise Preliminar de Riscos (APR), selecionada por sua aplicabilidade em ambientes com grande diversidade de atividades. Os riscos foram categorizados com base na matriz de risco do tipo 5x4, considerando dois critérios principais: frequência de ocorrência e severidade do dano, conforme [8]. Essa categorização permitiu priorizar os riscos mais críticos, especialmente os relacionados ao setor de banho e tosa, onde foram identificadas exposições simultâneas a agentes químicos, biológicos e ergonômicos.

 

2.3 CRITÉRIOS PARA PROPOSIÇÃO DE MEDIDAS DE CONTROLE

 

As medidas de controle foram sugeridas com base nos seguintes critérios:

·         Hierarquia de controles [9] (ISO 45001:2018): priorizando a eliminação ou substituição do risco antes do uso de EPI (Equipamentos de Proteção Individual);

·         Viabilidade técnica e econômica: buscando soluções compatíveis com a realidade da empresa [10];

·         Efetividade e conformidade legal: verificando se a medida proposta atende às exigências das NR aplicáveis e promove resultados sustentáveis [11].

A partir dessa abordagem integrada, foi possível não apenas diagnosticar os riscos presentes, mas também propor intervenções factíveis, culminando na elaboração de uma cartilha educativa para os trabalhadores do setor de banho e tosa.

 

 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

3.1 APLICAÇÃO DO CHECKLIST

 

A análise das condições de segurança e saúde no trabalho em uma empresa do setor veterinário, localizada no município de Paulista-PE, revelou uma série de não conformidades frente às Normas Regulamentadoras (NR) vigentes. A empresa, que conta com 17 colaboradores em sua filial e possui 25 anos de atuação, presta serviços variados como atendimento clínico veterinário, aplicação de vacinas, venda de medicamentos, banho e tosa, além da comercialização de rações, acessórios e animais ornamentais. A partir de visitas técnicas e da aplicação de um checklist baseado na legislação trabalhista, foi possível identificar deficiências significativas no gerenciamento dos riscos ocupacionais.

Em relação à NR 1, observou-se o não atendimento a diversos itens essenciais, como a implementação do Plano de Gerenciamento de Riscos (PGR), a adoção de medidas de prevenção conforme a hierarquia prevista e a consulta aos trabalhadores sobre os riscos ocupacionais. Além disso, não há registros de treinamentos, capacitações ou procedimentos formalizados para resposta a emergências. Os colaboradores têm acesso apenas parcial às informações de saúde e segurança, como os resultados de exames médicos, mas não são informados sobre os riscos ambientais presentes nos locais de trabalho. A empresa alegou estar em processo de adequação, o que explica, em parte, o cumprimento parcial de alguns itens.

Embora a NR 5 não exija a constituição de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) para empresas com menos de 20 funcionários, a norma prevê a indicação de um representante da organização para auxiliar nas ações de prevenção, o que não é realizado. Também não há promoção de treinamentos voltados à segurança e saúde no trabalho, contrariando os dispositivos mínimos exigidos. Situação semelhante ocorre em relação à NR 6, onde não se observa o fornecimento adequado nem o registro do uso de EPI, além da ausência de treinamentos sobre o uso correto desses equipamentos, conforme relataram os próprios trabalhadores.

A ausência de ações voltadas ao reconhecimento e controle das exposições ocupacionais também ficou evidente quanto à NR 9. A empresa não realiza a identificação ou avaliação de agentes físicos, químicos e biológicos presentes no ambiente laboral, tampouco conduz análise preliminar das atividades desenvolvidas, deixando de cumprir etapas importantes da prevenção. A NR 10 também não é plenamente atendida, os trabalhadores não estão capacitados a operar ou manusear equipamentos de combate a incêndios nas instalações elétricas, e embora a empresa terceirize serviços elétricos, permanece responsável por assegurar a segurança nas áreas internas.

Com relação ao transporte e manuseio de materiais, de acordo com a NR 11, observou-se que os carros utilizados para movimentação de cargas não possuem proteção adequada para as mãos e que os funcionários não recebem treinamentos sobre o uso de equipamentos com força motriz, mesmo que parte dessas atividades seja executada por terceiros. Já na NR 15, não há concessão de adicional de insalubridade, e nenhuma avaliação técnica foi realizada para comprovar a inexistência da necessidade desse adicional. Por sua vez, no que tange à NR 16 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES PERIGOSAS, os funcionários que utilizam motocicletas em suas atividades diárias não recebem treinamentos ou orientações sobre os riscos e as medidas preventivas, descumprindo integralmente anexo V da norma.

As exigências da NR 17, relacionadas à ergonomia, também não são observadas. A empresa não realiza avaliações ergonômicas preliminares, tampouco considera aspectos psicofisiológicos, ritmo de trabalho, meios técnicos ou fatores cognitivos que possam comprometer a saúde dos trabalhadores. Não há qualquer tipo de ação preventiva nesse sentido, como treinamentos, orientações sobre transporte manual de cargas ou atividades de ginástica laboral. Os trabalhadores estão, portanto, expostos a riscos ergonômicos sem qualquer suporte institucional.

A respeito da NR 23, embora tenha sido possível observar que a empresa possui equipamentos de combate a incêndios, o acesso a alguns extintores encontrava-se obstruído, o que compromete a eficácia das ações emergenciais. Além disso, os trabalhadores não são instruídos sobre procedimentos de evacuação, uso dos equipamentos ou sistemas de alarme, o que indica ausência de um plano de resposta à emergência bem estruturado. Também foi identificada a inexistência de um local apropriado para a realização das refeições, o que contraria as exigências da NR 24. A construção de um refeitório estava em andamento no momento da visita, o que indica uma possível adequação futura.

Por fim, no que se refere à NR 26, voltada à sinalização de segurança e manuseio de produtos químicos, foi constatado que os trabalhadores não são treinados para compreender a rotulagem preventiva nem a FISPQ – ficha de informação de segurança de produtos químicos com os dados necessários para manuseio e estocagem dos produtos utilizados. Também não recebem orientações sobre os perigos associados, medidas de prevenção ou procedimentos para atuação em situações de emergência envolvendo substâncias químicas. Tais falhas evidenciam a ausência de uma cultura de segurança consolidada na organização e apontam para a necessidade urgente de adequação às normas regulamentadoras, visando à proteção da saúde e integridade dos trabalhadores.

 

3.2 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES E ANÁLISE DE RISCO

 

Durante a visita técnica ao estabelecimento foi realizada uma análise das atividades laborais desenvolvidas nos diferentes setores da empresa, com o objetivo de identificar os processos operacionais e os respectivos riscos. A observação das condições de trabalho, infraestrutura disponível e práticas adotadas permitiu mapear os agentes de risco e propor medidas de controle alinhadas às exigências legais e aos princípios da prevenção em saúde ocupacional.

O quadro 1 apresenta o resultado da análise de riscos das atividades realizadas no pet shop.

 

Quadro 1 - Análise Preliminar de Risco

Fonte: Os Autores.

 

No setor de serviços estéticos e de bem-estar animal, observou-se que o profissional responsável pelo banho e tosa, popularmente conhecido como banhista ou tosador, mantém contato direto e prolongado com os animais, sendo responsável por atividades que vão além da higienização, como corte de unhas e higiene bucal. Essa função requer formação profissional específica, considerando os riscos inerentes tanto para o trabalhador quanto para o animal. A análise de riscos apontou exposição aos agentes de natureza diversa: acidentes com objetos perfurocortantes, mordeduras, choques elétricos, agentes biológicos (mucosas, fezes, urina), ruído de equipamentos, riscos ergonômicos (levantamento de animais e posturas inadequadas), além da exposição a agentes químicos. Embora medidas de proteção como uso de EPI, como luvas, proteção auricular e máscaras, e apoio entre funcionários estejam em prática, foram recomendadas ações complementares, como treinamentos contínuos, implementação de programa de proteção respiratória (PPR) e instalação de dispositivos mecânicos de auxílio no manejo dos animais.

No setor médico-veterinário, a atuação do profissional está associada à realização de consultas, procedimentos clínicos, administração de medicamentos e, eventualmente, pequenas cirurgias. Embora o atendimento seja realizado apenas duas vezes por semana no estabelecimento analisado, os riscos são significativos. Identificaram-se agentes de risco biológico, acidentes com perfurocortantes e mordeduras, riscos ergonômicos e exposição a medicamentos e partículas. As medidas preventivas observadas incluem uso de EPI básicos, como luvas e focinheiras, sendo recomendada a intensificação dos treinamentos e a introdução de rotinas formais para manuseio seguro de medicamentos e biossegurança.

No setor de vendas e farmácia, a principal atividade envolve o atendimento ao público e reposição de mercadorias, incluindo o transporte de sacas de ração. O risco predominante é ergonômico, associado ao esforço físico repetitivo. A utilização de carrinhos para transporte foi identificada como medida paliativa, mas recomenda-se a realização de treinamentos voltados à ergonomia, além do fornecimento de cintas lombares.

O setor de recepção apresenta menor complexidade operacional, mas ainda assim envolve riscos ergonômicos, decorrentes de posturas estáticas prolongadas, movimentos repetitivos e monotonia. A ausência de medidas formais de controle foi constatada, sendo sugerida a realização de treinamentos específicos e ajustes nos postos de trabalho.

Os profissionais de serviços gerais, responsáveis pela limpeza das instalações, estão expostos a agentes biológicos e químicos, bem como a riscos ergonômicos. Observou-se o uso de EPI como luvas e botas, mas com necessidade de aprimoramento quanto à adequação e uso correto desses equipamentos. Além disso, recomenda-se adoção de medidas administrativas, como pausas regulares e rodízio de tarefas, para minimizar os impactos das posturas inadequadas e movimentos repetitivos.

Na função de operador de caixa, observou-se exposição a riscos ergonômicos relacionados à repetitividade de tarefas, ritmo intenso de trabalho e posturas inadequadas. Não foram identificadas medidas preventivas formalizadas, sendo recomendado o desenvolvimento de programas de treinamento, adequações nos mobiliários e reorganização de atividades.

O motoboy, responsável pela entrega de mercadorias, apresenta uma das exposições ocupacionais mais críticas. Identificaram-se riscos ergonômicos, físicos (exposição a intempéries, radiação solar, ruído), químicos (inalação de poeira) e, principalmente, riscos de acidentes graves (quedas e colisões). A ausência de medidas específicas para controle desses riscos indica a necessidade urgente de implementação de políticas de segurança no trânsito, treinamentos direcionados e fornecimento de EPI apropriados para o tipo de atividade.

O profissional do setor de delivery, encarregado do recebimento e organização dos pedidos via televendas ou aplicativos, também está exposto a riscos ergonômicos, principalmente associados à postura inadequada, movimentos repetitivos e ritmo de trabalho acelerado. A análise sugere a adoção de medidas administrativas, reestruturação dos postos de trabalho e capacitação sobre ergonomia.

 

3.3 LEVATAMENTO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO ADOTADAS

 

A análise das medidas de proteção implementadas no ambiente laboral identificou a adoção de práticas voltadas à segurança e ao bem-estar dos trabalhadores, ainda que de forma não uniforme entre os setores avaliados. No setor de banho e tosa, constatou-se a disponibilização de EPI essenciais à segurança e higiene durante as atividades, incluindo avental, luvas, protetor auricular e máscara de proteção respiratória. Segundo relato de funcionário há uma atenção contínua à higienização do ambiente, especialmente na coleta de pelos entre os atendimentos, garantindo condições sanitárias adequadas. Como medida complementar, observou-se o uso de um difusor ambiental com propriedades calmantes, voltado à promoção do bem-estar animal durante os procedimentos estéticos.

No setor de vendas, onde o manuseio e transporte de cargas, como sacas de ração é frequente, são adotadas medidas ergonômicas específicas. Entre elas, destacam-se a utilização de cintas lombares para proteção da coluna vertebral e o uso de carrinhos de transporte para minimizar o esforço físico e reduzir o risco de lesões osteomusculares. Entretanto, os dados obtidos por meio da pesquisa evidenciaram uma lacuna entre a disponibilização de recursos de proteção e sua efetiva utilização, porque nem todos os trabalhadores utilizam EPI e/ou EPC – equipamento de proteção coletiva, como o carrinho de transporte de materiais.

 

3.4 ANÁLISE DO LAYOUT E ARRANJO FÍSICO

 

A avaliação do layout do estabelecimento, conforme indicado na Figura 1, indica um projeto estrategicamente desenvolvido com foco na eficiência operacional, segurança dos trabalhadores e bem-estar dos clientes. A disposição física dos setores segue diretrizes de boas práticas voltadas a ambientes comerciais, contemplando aspectos ergonômicos, acessibilidade e fluidez dos processos.

 

 

Figura 1 Layout do estabelecimento.

 

Fonte: Os Autores.

 

A organização do mobiliário, prateleiras e gôndolas foi estruturada de forma a otimizar o fluxo de trabalho, assegurando áreas de circulação amplas e bem distribuídas. Essa configuração contribui para a redução de riscos ocupacionais, além de favorecer a experiência do cliente e o desempenho funcional da equipe.

No setor de vendas, observa-se que a disposição das prateleiras e o posicionamento estratégico do balcão da farmácia viabilizam o bom desempenho das tarefas cotidianas, sem comprometimento das vias de acesso. Tais características demonstram a preocupação com a segurança e a funcionalidade dos espaços.

A área destinada aos operadores de caixa conta com balcões adequados ao exercício da atividade, incluindo assentos para promover conforto durante o expediente. No entanto, a localização próxima à entrada principal, associada à orientação do prédio voltada para o poente, ocasiona exposição direta à radiação solar em determinados horários, conforme indicado na Figura 2. Essa condição pode gerar desconforto térmico, o que demanda a adoção de medidas mitigadoras, como a instalação de barreiras solares, aplicação de películas refletivas ou readequações no layout.

 

Figura 2 Setor onde atuam os operadores de caixa.

Fonte: Os Autores.

 

No setor de banho e tosa, o arranjo físico foi concebido para favorecer a eficiência e segurança nas atividades realizadas. As mesas e bancadas seguem parâmetros ergonômicos, o que reduz esforços excessivos e favorece a postura adequada no manuseio dos animais. A circulação interna é ampla, permitindo liberdade de movimento e minimizando riscos de acidentes.

Entretanto, identificou-se uma limitação no uso das cubas destinadas ao banho de animais, conforme indicado na Figura 3. Projetadas para atender diferentes portes, essas estruturas apresentam profundidade significativa, o que exige esforço adicional por parte do trabalhador no atendimento a cães de pequeno porte. Essa condição impõe maior exigência física, sobretudo no alcance e posicionamento dos animais, podendo gerar desconfortos posturais.

 

Figura 3 Equipamento de secagem de animais e cuba para banho e tosa, com ampliação da imagem da cuba.

 

Fonte: Os Autores.

 

O setor conta ainda com equipamentos modernos de secagem, projetados para operar com níveis reduzidos de ruído, promovendo um ambiente mais tranquilo e diminuindo o estresse dos animais durante o procedimento. Toda a área é climatizada, contribuindo para o conforto térmico dos trabalhadores, dos animais e dos tutores.

Um aspecto particular do setor de banho e tosa refere-se à presença de paredes de vidro, conforme indicado na Figura 4, que possibilitam aos tutores acompanhar visualmente o atendimento de seus animais. Embora essa transparência proporcione maior confiança aos clientes, relatos dos profissionais indicam que a visibilidade do tutor pode gerar agitação nos animais, dificultando os procedimentos. Essa situação evidencia a necessidade de estratégias para mitigar essa interferência, como orientações prévias aos tutores ou readequações no layout do ambiente.

 

 

Figura 4 Setor destinado ao banho e tosa.

 

 

Fonte: Os Autores.

 

No setor clínico, indicado na Figura 5, o arranjo físico também se apresenta adequado às atividades desenvolvidas. A distribuição do mobiliário favorece a organização, eficiência e segurança no atendimento, além de proporcionar conforto tanto para os profissionais quanto para os tutores e seus pets. O ambiente é funcional, bem estruturado e condizente com as exigências de um espaço voltado à prática veterinária.

 

Figura 5 Arranjo físico e disposição de mobiliário no setor da clínica veterinária.

Fonte: Os Autores.

 

3.5 SISTEMAS DE COMBATE A INCÊNDIO

 

A análise dos sistemas de combate a incêndio no estabelecimento revelou pontos positivos, mas também aspectos que necessitam de ajustes em conformidade com as exigências legais.

No que se refere à disposição dos extintores de incêndio, conforme indicado na Figura 6, foi observado que, embora a maioria esteja acompanhada de demarcação no piso, há inconformidades que comprometem a acessibilidade e a eficácia desses equipamentos em caso de emergência. Identificou-se a presença de extintores com acesso obstruído e demarcações inferiores às estabelecidas pelas normas de segurança. Além disso, foram encontrados extintores posicionados em locais sem a devida sinalização de piso, descumprindo o que determina o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado de Pernambuco.

Em contrapartida, os sistemas de sinalização de saída de emergência, bem como as luzes de emergência, encontram-se adequados e em conformidade com os parâmetros exigidos pelas normas vigentes, garantindo condições mínimas de evacuação segura em casos de sinistro.

 

Figura 6 Obstrução no acesso aos extintores e falta de sinalização.

 

Fonte: Os Autores.

 

Esses achados evidenciam a necessidade de uma revisão e manutenção periódica do sistema de combate a incêndio, com vistas a assegurar o cumprimento integral das normas técnicas e garantir a segurança de todos os ocupantes do estabelecimento.

 

3.6 MEDIDAS DE CONTROLE PROPOSTAS

 

A partir da categorização dos riscos identificados no ambiente de trabalho, foi possível estabelecer uma priorização das ações necessárias e propor medidas de controle capazes de atenuar ou eliminar os perigos presentes. Essas propostas também envolvem a recomendação de procedimentos a serem seguidos durante a execução das atividades laborais, com foco na promoção da saúde, segurança e bem-estar dos colaboradores.

Uma das primeiras ações consideradas fundamentais é a oferta de treinamentos adequados aos funcionários, conforme suas respectivas áreas de atuação. No setor de banho e tosa, por exemplo, torna-se essencial capacitar os profissionais quanto ao manuseio seguro de diferentes tipos de animais, incluindo técnicas eficazes de contenção e primeiros socorros em casos de mordidas ou arranhões. Para os trabalhadores envolvidos com entregas, especialmente os que utilizam motocicletas é importante implementar treinamentos voltados à direção defensiva, enquanto todos os setores devem receber formação periódica sobre prevenção e combate a incêndios, com vistas a garantir uma resposta eficaz em situações emergenciais.

Além da capacitação, é imprescindível o fornecimento de EPI adequados para cada atividade. Os profissionais do banho e tosa, por exemplo, devem contar com luvas resistentes a mordidas, aventais de proteção e protetores faciais, visando à prevenção de acidentes comuns nesse tipo de tarefa. Mais do que a simples distribuição dos EPI, a empresa deve também promover orientações claras quanto ao uso correto e à conservação desses equipamentos, incentivando seu uso contínuo e adequado durante toda a jornada de trabalho.

Outro ponto de atenção refere-se à manipulação de produtos químicos. Para garantir a segurança dos trabalhadores, recomenda-se que todos os produtos estejam devidamente rotulados e que suas respectivas Fichas de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) estejam disponíveis e acessíveis em locais estratégicos. Essa medida é indispensável para que os funcionários saibam como agir em casos de contato acidental, inalação ou derramamento de substâncias potencialmente nocivas.

No que diz respeito à ergonomia, é necessário investir na adaptação dos postos de trabalho para minimizar os impactos causados por esforços repetitivos e posturas inadequadas. A utilização de mesas com altura ajustável, cadeiras com apoio lombar e superfícies adequadas às tarefas realizadas pode reduzir significativamente o risco de lesões ocupacionais. Aliado a isso, treinamentos sobre técnicas corretas de levantamento de cargas e orientações sobre posturas adequadas devem ser incluídos na rotina da empresa, especialmente para setores como o de vendas, onde há manuseio frequente de sacas de ração.

A prevenção de acidentes também deve ser alvo de atenção contínua. A sinalização de áreas de risco como pisos molhados e espaços de contenção de animais deve ser clara, visível e em conformidade com as normas regulamentadoras. Da mesma forma, a manutenção regular de equipamentos, como secadores de pelo e máquinas de tosa, é essencial para garantir seu funcionamento seguro, evitando falhas que possam comprometer a integridade física dos trabalhadores ou dos animais atendidos.

Em relação à saúde ocupacional, recomenda-se a implementação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), com a realização periódica de exames clínicos e ações preventivas voltadas à detecção precoce de doenças ocupacionais. Outro aspecto importante é assegurar que todos os colaboradores estejam devidamente vacinados contra doenças zoonóticas, como a raiva, além de imunizações básicas como a vacina antitetânica, fundamentais para trabalhadores expostos a riscos biológicos.

Por fim, com base na identificação do setor de banho e tosa como um dos mais críticos em termos de exposição a riscos e queixas dos trabalhadores, foi elaborada uma cartilha informativa e educativa direcionada aos profissionais dessa área. Esse material, indicado no Apêndice A, tem como objetivo orientar sobre boas práticas no desempenho das atividades, reforçar medidas de segurança e promover a conscientização sobre a importância da prevenção. Apresentada de maneira clara, com conteúdo ilustrado e linguagem acessível, a cartilha busca tornar o ambiente de trabalho mais seguro, saudável e eficiente, contribuindo diretamente para a valorização dos trabalhadores e a melhoria das condições laborais.

 

 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O estudo proporcionou uma análise ampla e detalhada das atividades realizadas em um pet shop com serviços integrados, destacando a importância estratégica do setor na economia, especialmente após o crescimento observado durante a pandemia. A investigação permitiu identificar os principais riscos ocupacionais enfrentados pelos trabalhadores, utilizando visitas técnicas, observações diretas, questionários e a APR como ferramentas principais.

Os resultados confirmaram a presença de riscos mencionados na literatura, com destaque para o setor de banho e tosa, apontado como o mais crítico devido à frequência de queixas dos colaboradores e à exposição a riscos ergonômicos e físicos. Dentre as medidas recomendadas para esse setor estão: instalação de dispositivos de elevação para animais, aplicação de películas nos vidros para reduzir a agitação dos pets, e treinamentos contínuos em segurança, ergonomia e boas práticas.

No setor de atendimento e vendas, foi observada a exposição dos operadores de caixa à radiação solar direta, o que compromete o conforto térmico. Como solução, sugere-se o uso de películas de controle solar para melhorar o ambiente de trabalho.

A pesquisa também revelou a necessidade de treinamentos periódicos sobre saúde e segurança do trabalho. A cartilha educativa desenvolvida durante o estudo é um recurso relevante nesse contexto, além de outras ações como ginástica laboral, incentivo à atividade física e orientações sobre postura adequada.

Apesar das limitações inerentes a uma abordagem qualitativa, os resultados foram consistentes, permitindo identificar setores prioritários para intervenção e propor soluções práticas e viáveis. Para estudos futuros, recomenda-se a inclusão de análises quantitativas que complementem os dados e contribuam para ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis no setor pet.

 

REFERÊNCIAS

 

[1] ABINPET.  Release conjunto Abinpet IPB Fechamento 2023. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/camaras-setoriais-tematicas/documentos/camaras-setoriais/animais-e-estimacao/2024/39a-ro-30-04-2024/release_conjunto_abinpet_ipb_fechamento23.pdf. Acesso em: 27 abr. 2025.

 

[2] Saiba mais sobre o mercado pet. SEBRAE, 2022. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/al/artigos/saiba-mais-sobre-o-mercado-pet,491716ba3f862810VgnVCM100000d701210aRCRD. Acesso em: 27 abr. 2024.

 

[3] MUNDO ERGONOMIA. A importância da ergonomia no mundo pet, 2019. Disponível em: https://mundoergonomia.com.br/2019/02/12/a-importancia-da-ergonomia-no-mundo-pet/. Acesso em: 27 abr. 2025.

 

[4] BRASIL. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS 2022. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/previdencia/pt-br/assuntos/previdencia-social/arquivos/copy_of_onlinte-aeps-2022-. Acesso em: 27 abr. 2025.

 

[5] AZEVEDO, V. F. B. de; VASCONCELOS, B. M. Prevenção de acidentes na construção civil: uma análise da utilização de ferramentas digitais para mitigação de riscos na etapa de projeto. Revista arq.urb, [S. l.], n. 39, p. 662, 2024. DOI: 10.37916/arq.urb.vi39.662.

 

[6] AZEVEDO, Vinícius Francis Braga de; KOHLMAN RABBANI, Emilia Rahnemay; VASCONCELOS, Bianca M. Prevenção de acidentes na concepção de projetos no processo BIM: Uma revisão bibliométrica. Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades, [S. l.], v. 12, n. 86, 2024. DOI: 10.17271/23188472128620245308.

 

[7] BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ABNT NBR ISO 31000 – Gestão de Riscos – Diretrizes, 2018. Disponível em: https://dintegcgcin.saude.gov.br/attachments/download/23/2018%20-%20Diretrizes%20-%20Gest%C3%A3o%20de%20Riscos_ABNT%20NBR%20ISO%2031000.pdf. Acesso em: 27 abr. 2025.

 

[8] AMORIM, S. R. Gestão de riscos em ambientes ocupacionais. São Paulo: Método, 2010.

 

[9] BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ABNT NBR ISO 45001:2018 – Sistemas de gestão de saúde e segurança ocupacional – Diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

 

[10] HOPKIN, P. Fundamentals of Risk Management. 5. ed. London: Kogan Page, 2018.

 

[11] BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. NBR IEC 31010:2021 — Gestão de riscos: Técnicas para o processo de apreciação de riscos. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.

 

APÊNDICE

 

Figura 7 – Cartilha informativa

Fonte: Os Autores.