Patologia em azulejos portugueses do século XIX no Recife Uma análise da fachada azulejar na Rua São Gonçalo n° 42

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Anna Julia Lapa
Eudes Rocha
Marcos Silva
Júlia Santos
Pedro Valadares

Resumo

Ao analisar o cenário de edificações civis recifenses a partir do século XIX, pode-se afirmar que os azulejos desempenham um papel significativo na valorização estética e simbólica das fachadas urbanas e civis no Recife, tendo sido amplamente utilizados como forma de distinção social e expressão de prestígio material, assim como forma de atribuir enriquecimento artístico à cidade. Pode-se afirmar que essa prática foi impulsionada por fatores como o Tratado de Comércio entre Brasil e Portugal, de 1834, que facilitou a entrada de produtos portugueses e franceses, entre eles os revestimentos cerâmicos, frequentemente aplicados em platibandas, frisos e alçados principais de edificações residenciais (Muraro, 2008). No entanto, embora esses elementos cerâmicos tenham sido amplamente difundidos no tecido urbano recifense, observa-se atualmente a degradação contínua desse patrimônio, sem o devido acompanhamento técnico ou políticas eficazes de preservação. Diante desse cenário, foi desenvolvida a pesquisa voltada para o mapeamento de azulejos de edificações civis no Recife, com a finalidade diagnosticar e documentar as manifestações patológicas observadas em azulejos portugueses e franceses do século XIX aplicados na fachada do imóvel de nº 42 da Rua São Gonçalo, situado no bairro da Boa Vista, centro histórico do Recife, contribuindo para ações futuras de conservação e valorização deste bem cultural integrado. Para isso, a pesquisa fundamentou-se em um referencial teórico sobre a azulejaria histórica pernambucana, com ênfase no Inventário do IPHAN, e foi complementada por visitas técnicas ao local, nas quais foram realizadas inspeções visuais sistemáticas, registros fotográficos detalhados, análise das condições de conservação e mapeamento das anomalias presentes no revestimento cerâmico. As peças analisadas apresentaram características formais e decorativas típicas da produção industrial da segunda metade do século XIX, com forte presença de padrões modulares e ornamentação seriada. O painel azulejar da fachada da edificação apresenta motivos geométricos repetitivos que remetem à tradição ornamental islâmica reinterpretada pela indústria cerâmica portuguesa (Rached, 2018) e também se destaca por um arranjo mais elaborado, com painéis delimitados por molduras e elementos florais ou estilizados nos cantos, sugerindo influência neoclássica, característica do período romântico. Segundo Rocha (2023), a sofisticação dessas peças está relacionada ao avanço das técnicas industriais da época, que possibilitaram a produção em série de azulejos com alto nível de detalhamento cromático e ornamental. Durante a análise visual dos azulejos presentes na fachada, foram identificadas diversas manifestações patológicas que comprometem não apenas a estética, mas também a integridade físico-química das peças cerâmicas. Dentre os danos identificados, destacam-se a perda parcial do vidrado, eflorescências salinas, trincas superficiais, desprendimento de peças, gerando espaços vazios na fachada, sujidades incrustadas e desagregações no esmalte. Essas patologias são compatíveis com os processos de degradação que afetam os azulejos históricos do século XIX, especialmente quando expostos por longos períodos às intempéries, sem a devida manutenção. Além disso, os sinais de desgaste observados reforçam a sua permanência prolongada em exposição direta ao ambiente urbano. Segundo Rocha (2023), a degradação de azulejos históricos está fortemente associada à composição química e mineralógica das peças, destacando-se que a presença de altos teores de porosidade e baixos índices de resistência mecânica, o que favorece o surgimento de problemas patológicos. Essa realidade é agravada pela exposição das fachadas à radiação solar direta e à poluição urbana, fatores que aceleram a perda da camada de vidrado e promovem o aparecimento de manchas, eflorescências e microfissuras (Rocha, 2023). A inspeção realizada no imóvel em estudo revelou que diversas peças apresentam perda do vidrado acentuada com preenchimento de enxertos argamassados, causando assim descaracterização da camada pictórica, comprometendo a visualização original do painel, uma vez que também possui espaços com ausência de peças, indicando desprendimento ou até mesmo furto do material existente. No contexto da arquitetura moderna, observa-se que a azulejaria permanece como elemento expressivo de valor estético e simbólico, mas muitas vezes dissociado do cuidado técnico necessário. Sendo assim, pode-se afirmar que a degradação progressiva dessas fachadas tem sido acompanhada não só por falhas nos processos anteriores de intervenção, mas também pela ausência de políticas públicas de preservação adequadas o que, por sua vez, evidencia a falta de valorização do painel histórico e o descaso em relação preservação do patrimônio. Vale ressaltar que a metodologia de inspeção baseada em registros fotográficos e análise da situação geral das peças diretamente no local, utilizada como forma de mapear e identificar os danos nas peças da fachada azulejar, se mostrou bastante eficaz. Dessa forma, pode-se concluir que a análise dos resultados obtidos reforça a necessidade de ações de diagnóstico, catalogação e restauro embasadas tecnicamente, com o uso de metodologias adequadas para avaliação de danos e identificação de causas-raiz.
 
Palavras-chave: Azulejos; manifestações patológicas; fachada; patrimônio.
 
Referências
 
BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Superintendência em Pernambuco. Inventário do Acervo Azulejar em Pernambuco: séculos XVI a XIX. Recife, IPHAN/PE, 2008.
 
 MURARO, C. Inventário do acervo azulejar de Pernambuco: séculos XVI a XIX. Recife: IPHAN/PE, 2008.
 
 RACHED, M. da S. As tramas azulejadas nas fachadas da arquitetura moderna e contemporânea brasileira. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano. Recife, 2018.
 
 ROCHA, E. de A. Proposição de um método para estudo da degradação de azulejos portugueses em monumentos históricos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Recife, 2023.

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Seção
Engenharia Civil